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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 27 de julho de 2012

DO APARENTE IRRISÓRIO À ABUNDÂNCIA DOS BENS: O VERDADEIRO MILAGRE


(Liturgia do Décimo Sétimo Domingo do Tempo Comum)

Há alguns milagres que Jesus realiza com o objetivo de saciar. Saciar as fomes, as angústias e a sede de vida.  Mas há alguns dos quais Jesus “foge” como quem evita o perigo. O motivo é porque, ao invés da saciar, provocam ainda mais fome.  Uma fome que nunca pode ser saciada.
A cena evangélica deste décimo sétimo domingo do Tempo Comum (Jo 6,1-15) nos apresenta um dos primeiros milagres realizados diante dos olhos de uma grande multidão. Contudo, no final, aponta para um outro tipo de milagre do qual Jesus quer ficar longe a todo custo.
O primeiro é um milagre que sacia. Trata-se da multiplicação dos pães e dos peixes. Um milagre que acontece a partir daquilo que se tem. Isto é, da realidade concreta daquelas pessoas. Esse milagre só pode acontecer quando se aceita partilhar.
O que Jesus faz em primeiro lugar, na verdade, é ajudar a crer naquilo que se tem, naquilo que se é. Com certeza, Filipe, que é posto à prova por Jesus, sabe que no grupo há aquela quantidade de alimento irrisória.
Jesus não pergunta, mas é como se dissesse: o pouco que se tem não é nada? Será que, mesmo sendo pouco, não significa nada?  Será que não serve para nada? O que temos nunca será o bastante?
O primeiro movimento do gesto de Jesus começa a operar um verdadeiro milagre sobre toda a forma de baixa autoestima, inferioridade e desvalorização. Então, o grande milagre, mesmo antes da fartura, está em reencontrar a confiança!
O segundo movimento do gesto de Jesus ajuda a ir em direção à partilha. Aquilo que se tem, ainda que pouco ou, aos olhos de muitos, sem importância, deve ser compartilhado. É isso que sacia! Sacia quem assim age, encontrando coragem para partilhar os próprios bens e os dons, e sacia também quem se alimenta do que foi partilhado, isto é, os famintos e desencorajados diante da vida.  
Jesus não distorce a natureza, tampouco as leis da vida, como às vezes temos a tentação de desejar e pedir, com expressões como estas: “por que Deus não acaba com a fome do mundo? Por que Deus não faz um gesto e elimina as doenças, as guerras e a violência? Não! Deus não é um mágico. Na pessoa de Jesus, Deus age de modo contrário a todo o tipo de artificialismo, ajudando-nos a entrar na dinâmica das leis da natureza e da vida.
Saciar a fome a partir do nada, isso sim, teria sido um “milagre” espetacular, mas fora de qualquer lei da natureza. Teria sido um gesto mágico, como o próprio diabo já havia proposto que Ele fizesse, no início do Seu ministério: “Faça com que estas pedras se transformem em pão, e todos acreditarão em ti”.
Mas Jesus está longe disso e vê esse tipo de atitude como uma tentação da qual deve se distanciar. Mais discreto e mais eficaz, mais de acordo com a lógica de Deus é o gesto de fazer uma pessoa tomar consciência daquilo que tem e aquilo que é, como também dos próprios dons, dos próprios recursos.
A dinâmica de Jesus está fundamentada na lógica de Deus e é por isso que os seus movimentos são gestos que podem ajudar a pessoa a agir confiando que aquilo tem é importante. A partir do contexto da sua realidade e usando aquilo que tem, isto é, os seus recursos, os bens, a sua história e a sua realidade toda, encontrar-se no amor, nas relações com os outros, na partilha com os pobres.
Um outro milagre, ao qual se alude, e que Jesus recusa absolutamente, é aquele no qual as pessoas parecem tropeçar, quando querem fazer dele um rei. Ele se distancia dessa situação, porque percebe que é justamente o oposto do que Ele acaba de fazer.
Se tivesse se prestado a essa dinâmica, teria distanciado as pessoas umas das outras e d’Ele mesmo, como também da responsabilidade de encontrar no amor pelos outros, a própria razão de viver. O pão não seria multiplicado, nem os recursos de cada um, muito menos a vontade de partilhar, mas apenas o poder de alguém, isto sim, teria sido multiplicado sem medida.
A multidão O procura para coroá-lo rei. Está em busca de um homem poderoso para seguir, entusiasmando-se por um líder. Na realidade, quer alguém que a desresponsabilize. Prefere tornar-se uma massa indistinta em busca de um herói, atrás de um profeta e de um líder que faz sonhar, mas que, na realidade, aliena e tira de cada um a responsabilidade que tem de operar com os dons que Deus lhe deu.
Diante dessa perspectiva e desse capricho Jesus foge e se esconde! Não quer que as pessoas o encontrem. Não para corresponder aos seus desejos de poder. Disse um não, em alto e bom tom, a essa dinâmica.
Eis o que Ele considera como um verdadeiro milagre: cada um caminha com suas próprias pernas, pensa com sua própria cabeça, torna, por assim dizer, o líder e o profeta de si mesmo, o seu próprio chefe, e essa responsabilidade floresce em vida sempre nova, justamente porque cada pessoa sabe aceitar aquilo que tem e aquilo que é. Quando sabe fazer de si um dom para os outros.
Assim se constrói o sonho de Deus manifestado na segunda leitura (Ef 4,1-6): “um só Corpo e um só espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos que age por meio de todos e permanece em todos”. Só Deus é o nosso Rei! Nós somos, todos unidos num só Corpo, irmãos e irmãs. O Reino de Deus é assim! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

sábado, 21 de julho de 2012

JESUS, O BOM E VERDADEIRO PASTOR


(Liturgia do Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum)

A Palavra de Deus nos apresenta neste Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum, Jesus como o Pastor bom, verdadeiro, atencioso e guia seguro para o Seu rebanho.
Na primeira leitura profeta Jeremias (26,1-3) nos apresenta um rebanho disperso, confuso e dividido por causa do desinteresse ou da maldade dos pastores aos quais tinha sido confiado. “Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem"!  Fica muito claro que o rebanho é propriedade do Pastor Supremo e não dos pastores!
É terrível a maldição de Deus para os falsos e maus pastores, para os impostores, para quem escandaliza e desvia o rebanho!
A cada um de nós é confiado um “pequeno rebanho”. A família, os amigos, os colegas de trabalho etc. Em todos esses ambientes podemos ser fieis testemunhas do amor de Deus ou, pelo contrário, apossar-nos e aproveitar-nos tanto das pessoas como das situações de acordo com o nosso próprio interesse.
O pressuposto fundamental para que alguém seja um bom pastor é o de preocupar-se com as ovelhas que lhe são confiadas. Tomar cuidado das suas necessidades, das suas fragilidades e aspirações.
No Evangelho (Mc 6,30-34) deste domingo Jesus parece quase ver o rebanho descrito por Jeremias e, olhando-o com ternura infinita, se comove!
Mas nós, cristãos deste século, homens deste tempo temos, de fato, necessidade de um pastor? Somos mesmo semelhantes à ovelhas perdidas e confusas? Não seria ofensiva essa comparação ao homem moderno que desvendou tantos segredos da natureza, da ciência e até mesmo do sobrenatural?  É claro que a primeira e imediata resposta dada por cristãos verdadeiros é que sim! Sem dúvida, temos ainda necessidade de um ponto de referência, de um guia, um farol no qual basear a rota da nossa vida e da nossa existência, de modo a reduzir o risco de nos perdermos.
Portanto, há sim, a necessidade de uma moral, uma filosofia divina ou um ideal. O risco aqui é o de trocar a necessidade de ter o Pastor como referência e paradigma pelas “cercas” que podem dar segurança ao rebanho. 
É preciso lembrar que as “cercas” que dão segurança ao rebanho são apenas o abrigo das ovelhas durante a noite. O resto do dia o rebanho corre e caminha livre pelos pastos, onde cada ovelha vive ao seu modo sob o olhar atento do Pastor que sabe reconhecer a cada uma individualmente, ao ponto de chamá-la pelo nome.
Infelizmente, como sempre, não há alternativa: ou seguir o Pastor, ou perder-se, correndo o risco de vir a ser devorado pelos lobos.
A nossa profunda necessidade do Pastor se revela nos momentos das perdas irreparáveis e das dificuldades na vida. É quando descobrimos que somente Ele é capaz de enfrentar as noites escuras e os caminhos acidentados para procurar-nos, resgatar-nos e curar nossas feridas.
É justamente quando a ovelha está mais perdida que o Pastor Bom e verdadeiro estará mais próximo! Nesses momentos o ser humano, ovelha ferida, tem necessidade de um encontro e não de teorias, explicações e conceitos! Nesses momentos terríveis da vida, somente aquele que é Bom Pastor, que vem procurar para carregar o peso das nossas misérias e das nossas dores, pode salvar-nos do desespero.
Jesus queria parar um pouco para descansar com os seus discípulos, mas “viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas que não tem pastor”.
Ele consegue enxergar no mais profundo da alma de cada homem e de cada mulher, a imensa sede de Deus. Consegue ver no mais profundo de cada ser uma imensa necessidade de verdade, de resgate e de sentido da vida!
E então, começa a ensinar-lhes. Recomeça a guiá-los um a um, para que todos, sem exceção, sejam salvos.  O Bom Pastor, no entanto, não se limita a guiá-los com o Seu ensinamento. Ele compreende, não condena, protege e cura cada uma das ovelhas, ainda que tivessem fugido e ido para longe dele! Então, Ele as cura e doa a Si mesmo, diferentemente dos maus pastores denunciados na primeira leitura pelo profeta Jeremias, que são o motivo das feridas nas ovelhas!
Jesus, o Bom Pastor, cuida de suas ovelhas, sacrificando-Se a Si mesmo! Ele se oferece como “presa” para satisfazer o apetite do “lobo” e manter o Seu rebanho salvo, definitivamente, da boca do predador feroz.
Ao oferecer-Se em sacrifício na cruz, Jesus o Bom Pastor, reúne as Suas ovelhas marcando-as com o Seu sangue precioso e tornando-as dignas do Paraíso. Destrói, assim, como escreve São Paulo na segunda leitura (Ef 2, 13-18) a inimizade, o “muro da separação” e o medo.
Graças ao Seu sangue derramado na cruz, a divisão do rebanho e a divisão entre o rebanho e Deus, foi superada para sempre. Ele re-pacifica com o sacrifício redentor, a humanidade inteira consigo mesma e com Deus.
É por isso que temos necessidade de um Pastor. Sozinhos, certamente, nos perderemos e não conseguiremos vencer o mal que se agita dentro e em torno de cada um de nós. Mas incorporados em Cristo, como os ramos na videira e como os membros no corpo, com a sua Graça santificante é que vencemos o “bom combate”. Com o salmista podemos então rezar: “Felicidade e todo o bem hão de seguir-me por toda a minha vida”! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).



sábado, 14 de julho de 2012

DISCÍPULOS ENVIADOS: POBRES DE BENS E SEGURANÇA TERRENOS – RICOS DA FORÇA DO ALTO!

Liturgia do Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum)

Sempre que me vem a tentação do desânimo na caminhada pastoral ou dos projetos e iniciativas, por causa das dificuldades que, às vezes, são obstáculos para a caminhada, procuro não ceder, justamente por causa do texto do Evangelho deste décimo quinto domingo do Tempo Comum (Mc 6,7-13).
Na realidade nos faz relembrar sempre de novo que o Senhor é o dono da Vinha! Ele é quem proverá tudo aquilo que precisamos! Em nós, de fato, deve permanecer apenas o desejo de fazer substancialmente, aquilo que Ele ordena, no mesmo estilo, fé e amor como Ele fazia e faz!
Não podemos, no entanto, ignorar que hoje o nosso trabalho pastoral e a nossa missão está, por vezes, contaminada por vários “supérfluos” que procuramos justificar sempre como necessidades da modernidade, e com a lógica perversa dos fins, para os quais são permitidos todos os meios, não tendo, portanto, claro o que é, de fato, essencial à nossa missão.
Certamente não se coloca em discussão os meios bons, isto é, aquilo que nos ajuda a trabalhar e a desempenhar de um modo melhor a nossa missão!  Mas é preciso colocar em discussão sim, todos aqueles meios atrás dos quais se escondem a nossa eficiência, carreirismo, desejo de sucesso, privilégios e, sobretudo o desejo de possuir bens e dinheiro.
É contra toda essa busca por eficácia, carreirismo e desejo de poder que contamina hoje até mesmo a nossa missão, que nos é dado hoje o remédio neste Evangelho do envio, sem meias medidas, no estilo da missão evangélica da Igreja!
Hoje Jesus nos manda Ir dois a dois, no estilo judaico (Mt 18,16). Trata-se do testemunho crível da nossa fé, da nossa salvação e batismo comum. Dois é o mínimo para os irmãos que não devem e não querem permanecer sozinhos, testemunhando que o “terceiro” é o próprio Jesus que permanece sempre no meio deles. “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei aí, no meio deles” (Mt 18,20 – Heb 10, 28), afirmando, ao mesmo tempo, que o nosso Deus tem o desejo de ser o outro, e que ninguém é destinado à solidão, seja ela forçada ou voluntária, porque a salvação que testemunhamos não é uma teoria humana, mas destino divino.
O cajado que todo peregrino deve levar é mais do que um simples objeto de apoio. É a memória bíblica do maior evento de salvação em que se transforma a história da humanidade. É um cajado que pode fazer a diferença, separando as águas de um mar, fazendo jorrar água de pedra, e ainda recordar o lenho da cruz, no qual Deus sela a vitória sobre a morte.
O bastão ou cajado é esse símbolo forte para edificar, não para constranger ou agredir, mas para dar apoio e todo o sustento à nossa fraqueza que é também a nossa força (2Cor 12, 9-10). É esse símbolo que nos lembra que, cedo ou tarde, todos temos necessidade de uma ajuda, um auxílio.
As sandálias calçadas são a única defesa de quem deve caminhar muito. Elas garantem a possibilidade de atravessar o mundo inteiro sem levar ou fazer o mal. São o símbolo da coragem do homem de Deus que não teme ir lá onde Deus o envia. Geralmente, as tiramos dos pés quando entramos em casa, deixando a poeira do lado de fora, impedindo que toda a “poeira” que não pertence à nossa dignidade e santidade, e que às vezes se prende no “recinto” sagrado da nossa fé e da nossa salvação, colocando-a em perigo, a destrua.
Simbolizam também a coragem com a qual precisamos nos calçar, ainda que tenhamos que caminhar sobre brasas ardentes, quando temos que ir onde não gostaríamos de ir.
As sandálias não escondem a beleza dos pés daqueles que anunciam a salvação. Pés missionários que nos lembram também que, justamente porque usam sandálias, não criam um escudo impenetrável, e dizem, ao mesmo tempo, que devemos estar prontos a arriscar sempre algo da nossa segurança, que a nossa força está em Deus e não em nós!
Se Jesus nos diz o que levar, por outro lado, nos diz o que não levar, porque seria inútil à missão que devemos enfrentar.
Não levar pão é uma das recomendações. Esse pão não seria fruto da Providência, mas do nosso desejo de providenciar as próprias seguranças, confiando mais em nós do que em Deus. É um pão inútil porque não se destina à partilha, mas à nossa própria necessidade.
Parece que Jesus envia os seus, fazendo-os passar por uma prova em preparação àquele único Pão que é bem mais do que simples pão e bem mais do que qualquer sustento que possamos providenciar. Trata-se daquele Pão que pode vir somente do Céu e que é enviado para que confiemos na Providência. Esse pão não elimina apenas o medo de morrer, mas vence a própria morte. Como ensina Inácio de Antioquia, é “moeda para a imortalidade”! É o Pão verdadeiro, sinal de Sua misericórdia e único tesouro que somos autorizados a levar sempre, mas que, infelizmente, às vezes confundimos com o pão que nós mesmos providenciamos, e já não o buscamos como deve ser buscado!
Seria uma contradição rezar ao Pai pedindo que nos dê “o pão nosso de cada dia” e depois querer levar sacolas do nosso próprio pão!
Não levar duas túnicas! Obviamente inútil, simbolizam a imagem do que, realmente, é supérfluo, como roupagens que servem para satisfazer não apenas a necessidade básica de cobrir-se, mas um projeto pessoal de previsão, de planejamentos e de cálculos que tem o objetivo de endossar e aparentar que estamos sempre prontos, limpos e fortes para qualquer ocasião, mesmo que percamos a “ocasião” de Deus, que é a ocasião certa. Isto é, o hoje no qual o meu Senhor me acolhe com uma única túnica, sinal da minha identidade, dada por Ele no dia do meu batismo.
A Ele não importa que esteja amarrotada ou bem passada, porque apenas as coisas que usamos, de fato, dão testemunho do verdadeiro trabalho que realizamos, ou seja, o bem que fazemos, a nossa verdadeira dignidade.
Se essa única túnica é a nossa única identidade, então, temos que nos perguntar: conheço, de fato, a minha dignidade cristã? Tenho consciência da minha pertença Àquele que me envia? Confio ainda numa dupla identidade que providencio para mim mesmo com o único objetivo de aparentar o que não sou diante de Deus e das pessoas?
Nem dinheiro na cintura é aconselhado levar. Portanto, renunciar ao dinheiro é uma condição existencial mais do que material, ainda que se deva renunciá-lo também materialmente, para permitir que o ser transpareça em nós, ao invés do ter.
O dinheiro é a somatória de todas as nossas exigências de autonomia e de egoísmo. A começar com o egoísmo para com Deus e o próximo! É a principal preocupação tanto do pobre como do rico.
Ele é capaz de nos “roubar”, possuindo o nosso ser, desorientando a nossa alma, confundindo a nossa fé e confiança na Providência e alimentando a nossa sede de poder!
É verdade que com o dinheiro se pode fazer muita coisa boa. Aliás, o dinheiro sempre nos dá a oportunidade de fazer o bem! Infelizmente, o mal também! Mas ele pode tornar-se providência para alguns necessitado, pode ser sinal de esperança para outros. Mas qual é o preço que devemos pagar, quando nos dedicamos a conseguí-lo a qualquer custo como um recurso poderoso para ter poder?
O perigo do dinheiro é que ele pode tornar vã a nossa missão, subornar a santidade e a dignidade humana, e ainda mais, pode fazer com que as grandes obras de caridade tornem-se “empresas”, tais como sociedades anônimas que, como enormes serpentes de ouro que engolem a própria cauda, substituem todo e qualquer objetivo benéfico pelo bem supremo das suas próprias existências.
Uma das maiores acusações que se voltam contra nós e à nossa missão, diz respeito à combinação Igreja-riqueza. Ainda que a maioria das acusações sejam inoportunas ou inverídicas, diante de um estoico e concreto esforço eclesial em favor dos mais sofredores e injustiçados, devemos considerar o testemunho de tantos santos que fizeram resplandecer a glória de Deus, através de uma vida obediente, casta e pobre.
São eles que hoje nos ajudam a examinar a nossa consciência de missionários, religiosos, religiosas, leigos engajados e então, perguntar-nos: Essas acusações são, de fato, injustas? Será que não teríamos nada a melhorar a esse respeito? Será que conseguimos renunciar alguma coisa para “ganhar” o mundo inteiro”? Sabemos “morrer” para viver e “perder” para ter, verdadeiramente?
Como seria bonito levar a sério, realmente, o Evangelho de hoje e seguir o seu conselho literalmente! Talvez uma nova credibilidade nos ajude a ser ainda missionários do Reino, portadores da Palavra de salvação e de cura!
Quem sabe se algum pobre de bens materiais ou de espírito encontre, concretamente, um pouco de alívio no nosso supérfluo, feito de bens materiais, contas bancárias, riquezas que a “traça corrói” e quem sabe, algum missionário, livre das preocupações de gerenciar casas, campos e contas bancárias, consiga ser mais atento à sua missão?
Quem sabe se nos libertarmos dos motivos dessas suspeitas e acusações, a fim de sermos mais fieis à missão à qual fomos enviados pelo Senhor, não nos tornamos um pouco mais pobres de bens terremos, porém mais ricos da força do alto. Quem sabe, assim, o Reino dos Céus não se torna mais próximo? (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).


segunda-feira, 9 de julho de 2012


DIA DE SANTA PAULINA
(09 de julho)

Nascida no dia 16 de dezembro de 1865, em VígoloVattaro, Trento, norte da Itália recebeu o nome de Amábile Lúcia Visintainer.
Imigrou para o Brasil aos nove anos de idade, juntamente com seus pais, seus irmãos e outras famílias da região Trentina, no ano de 1875, estabelecendo-se na localidade de Vígolo - Nova Trento - Santa Catarina - Brasil. Em 1887 faleceu sua mãe e Amábile cuidou da família, até o pai contrair novo matrimônio. Desde pequena ajudava na Paróquia de Nova Trento, especificamente na Capela de Vígolo, como paroquiana engajada na vida pastoral e social. Com um grupo de jovens ajudou na compra da imagem de Nossa Senhora de Lourdes, que é conservada na gruta do Santuário.
Aos 12 de julho de 1890 com sua amiga, Virginia Rosa Nicolodi, deu início à Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, cuidando de Lúcia Angela Viviani, portadora de câncer, em fase terminal, num casebre doado por Beniamino Gallotti. Após a morte da enferma, em 1891, juntou-se a ela a segunda irmã, Teresa Anna Maule.
Em 1894 o trio fundacional da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, transferiu-se para a cidade de Nova Trento. Receberam em doação o terreno e a casa de madeira dos generosos benfeitores, João Valle e Francisco Sgrott.
Em 1903, Santa Paulina foi eleita, pelas Irmãs, Superiora Geral, por toda a vida. Nesse mesmo ano, deixou Nova Trento para cuidar dos ex-escravos idosos e crianças órfãs, no bairro do Ipiranga, em São Paulo - SP. Recebeu apoio do Pe. Luiz Maria Rossi e ajuda de Benfeitores; em especial, do conde Dr. José Vicente de Azevedo.
Em 1909, a Congregação cresce nos Estados de Santa Catarina e São Paulo. As Irmãs assumem a missão evangelizadora na educação, na catequese, no cuidado às pessoas idosas, doentes e crianças órfãs. Nesse mesmo ano, Madre Paulina é deposta do cargo de Superiora Geral pela autoridade eclesiástica e enviada para Bragança Paulista a fim de cuidar de asilados, onde testemunha humildade heróica e amor ao Reino de Deus.
Em 1918, Santa Paulina é chamada a viver na Casa Geral onde testemunha uma vida de santidade e ajuda na elaboração da História da Congregação e no resgate do Carisma fundante. Acompanha e abençoa as Irmãs que partem em missão para novas fundações. Alegra-se com as que são enviadas aos povos indígenas em Mato Grosso, em 1934. Rejubila-se com o Decreto de Louvor dado pelo Papa Pio XI em 1933 à Congregação.
Santa Paulina morre aos 77 anos, na Casa Geral em São Paulo, dia 9 de julho de 1942, com fama de santidade, pois viveu em grau heróico as virtudes de FÉ, ESPERANÇA e CARIDADE e demais virtudes.
Processo de Canonização                                                                              
O processo, iniciado em 03 de setembro de 1965, celebrou um momento forte com a Beatificação de Santa Paulina, proclamada pelo Papa João Paulo II, no dia 18 de Outubro de 1991, em Florianópolis-SC - Brasil. A culminância desse processo, dá-se com a Canonização, no dia 19 de maio de 2002, em Roma. Canonização é uma sentença definitiva e oficial da santidade de Madre Paulina, heroína da vida cristã e se pode fazer culto público, em toda a Igreja. Está incluída na lista (cânone) das Santas e Santos da Igreja Católica. (Paróquia São Paulo Apóstolo)

COMEMORAÇÃO DOS 5 ANOS DE SACERDÓCIO


PARABÉNS FREI CÍCERO!
COMEMORAÇÃO DOS 5 ANOS DE SACERDÓCIO

Em virtude dos cinco anos de vida sacerdotal do nosso querido Frei Cícero Ferreira dos Santos, preparamos uma bela e significativa celebração, no dia 17 de junho, de modo especial, com a missa na matriz São Paulo Apóstolo. Toda a festa quis expressar a alegria em tê-lo à frente de nossa comunidade paroquial, enviado pela Congregação Missionária de Santo Inácio de Antioquia. O Ministério de Dança Divina Pastora (Pastorinhas), fez uma apresentação para homenageá-lo, enquanto o Sr. Joacir de Oliveira, coordenador do CPP, leu uma mensagem, em nome de todos os paroquianos, agradecendo ao Frei pelas belas obras de evangelização realizadas na igreja e a importância do Padre no meio da sociedade.
Dando continuidade ao dia festivo, realizamos no salão de festas da capela de São Roque – Barra Grande – o almoço, no qual participaram membros da comunidade, amigos e os confrades da Congregação Missionária de Santo Inácio de Antioquia. ¨Foi um dia de muita importância para mim, pois comemorar cinco anos de sacerdócio em meio a tantos desafios não é fácil. Por isso, agradeço a todos por terem participado comigo desse maravilhoso momento”, enfatizou Frei Cícero. (Camila Fernanda Pavan – PasCom – Paróquia São Paulo Apóstolo).

O RELIGIOSO COMO PROTAGONISTA DE SUA FORMAÇÃO


O RELIGIOSO COMO PROTAGONISTA DE SUA FORMAÇÃO
05 DE JUNHO DE 1999

A formação integral, então, da pessoa ou do candidato deve compreender a dimensão física, moral, intelectual e espiritual, para que resulte que os candidatos destinados ao ministério presbiteral, tenham uma autenticidade humana, capaz de realizar na vida religiosa, a missão a cumprir na Igreja.
Para finalizar: O povo cristão tem necessidade de “sacerdotes peritos na fé”, que ajudem os irmãos a percorrer o Caminho real da Santa Cruz. Tem necessidade de testemunhas, que digam e ensinem a renunciar, ao que São João chama de “mundo” e “vaidades”. Afinal o Reino de Deus, do qual, a Vida Religiosa deve manifestar sua elevação sobretudo do que é terreno, num esforço contínuo e exigente.
A ascese, inerente à Vida Religiosa, pede entre outros elementos, uma iniciação ao silêncio e à reflexão, mesmo na atividade quotidiana do apostolado.
A solidão, se for livremente assumida, conduz ao silêncio interior, que a maturidade espiritual vai exigindo da pessoa, se tornará uma verdadeira Comunhão fraternal com Cristo, amigo fiel. (Capturado por: Frei Djalma Moraes – Noviço - PASCOM - Convento Santo Inácio Mártir). 


ANO VOCACIONAL INACIANO

Desde agosto de 2011 a Congregação Missionária de Santo Inácio de Antioquia vem vivendo o seu Ano Vocacional. Com certeza, no caminho, encontramos muitos desafios e percalços, que tivemos que enfrentar, sempre com o foco em nossa meta.
É extremamente complicado falar de vocação num mundo que está cada vez mais preocupado com o passageiro, superficial e material, enfim, apenas com o prazer temporal. A vocação, por ser um dom de Deus, é para a vida toda; algo incompreensível aos olhos de muitos, mas gratificante e especial para quem é chamado e tem a coragem de dar a sua resposta.
O Ano Vocacional Inaciano preocupou-se em manter viva a chama vocacional de cada um e, ao mesmo tempo, ajudar na busca da vocação de muitos que ainda não se encontraram, na certeza de que Deus dá sim, à cada ser humano uma vocação específica.
A Família Inaciana trabalhou com força total, unida na oração, comunhão e participação. Os frades, formandos, oblatos e leigos das nossas comunidades, todos eles empenharam-se nessa missão.
Tivemos fracassos, sobretudo quanto à algumas responsabilidades de tarefas. Porém, as vitórias foram maiores e nos fizeram querer trabalhar cada vez mais. Novas vocações, profissão de votos, novos Oblatos, ordenação, enfim tudo, com certeza, fruto de muitas orações e de joelhos que se dobraram ao Mestre das vocações pra pedir por nossa Congregação e por nossa Igreja. Foram momentos fortes nas celebrações eucarísticas, nos terços, via-sacra, Hora Santa Vocacional e promoções. De tantas formas trabalhamos e confiamos a Deus nossa caminhada inaciana e as vocações. Agora na reta final do Ano Vocacional Inaciano, estamos mais motivados ao trabalho; nossa fé está mais segura e fortificada.
Que Santo Inácio – Mártir, nosso pai espiritual e guia, seja modelo de entrega, serviço, obediência e, acima de tudo, cristão autêntico, que dá a vida pelo Reino de Deus, não almejando poder nem status, mas sim a glória de Cristo.
A nossa gratidão a todos que se empenharam e se envolveram conosco, desde os gestos mais simples, as orações mais singelas e por cada vez que pudemos estar unidos em oração, trabalho e por que não dizer: convivendo. O NOSSO MUITO OBRIGADO!
O Ano Vocacional Inaciano está terminando o seu calendário, mas a missão continua. Rezemos, trabalhemos sempre mais pelas vocações! Deus chama, o mundo precisa, a Igreja convoca! Que Nossa Senhora, Divina Pastora, seja nossa seta e condutora para o caminho certo! (Frei Djalma Moraes – Noviço (PasCom - Convento Santo Inácio Mártir).

SANTA MARIA GORETTI – Virgem e Mártir



SANTA MARIA GORETTI – Virgem e Mártir

Nasceu no dia 16 de outubro de 1890 na cidade de Corinaldo, Itália, filha de fazendeiro, mudou-se com a família para Ferriere di Conca, perto de Anzio. No dia 16 de julho de 1902, Maria estava sentada no degrau de sua casa remendando uma camisa, quando Alexandre Serenelli, filho do sócio de seu pai a arrastou para dentro e enquanto ela gritava e se debatia, ele rasgava as suas roupas tentava asfixiá-la, apertando o seu pescoço. Ela debateu-se e ele a ameaçou com uma faca, e ela continuou a gritar que preferia morrer a perder sua virgindade. Foi então que a esfaqueou repetidamente nas costas, fugindo em seguida. Maria Goretti foi levada para o hospital, mas não sobreviveu. Nas suas últimas horas de vida ela perdoou o seu assassino Alexandre, que foi sentenciado a 38 anos de prisão. Segundo narra a história do martírio de Santa Maria Goretti, Alexandre teve a experiência da visão de Maria Goretti apanhando flores e oferecendo-as a ele. Dai em diante acontece uma grande mudança de personalidade e do modo de ver a vida, quando pede, repetidamente, o perdão à mãe de Maria Goretti.
Em 1947, Santa Maria Goretti foi beatificada pelo Papa Pio XII. Sua mãe mais três das suas irmãs e irmãos estavam presentes. Em 1950 foi canonizada Santa Maria Goretti. (Frei Djalma Moraes – Noviço PasCom – Convento Santo Inácio - Mártir)

CAPELA SANTA MARIA GORETTI
Nossa paróquia de Santa Luzia tem a alegria de ter Santa Maria Goretti como padroeira de uma de suas comunidades. Trata-se da Capela Santa Maria Goretti, no jardim Araruna. Como todos sabem, a capela está em reforma.
Por motivos financeiros as obras tiveram uma pausa. Informamos que o nosso pároco, juntamente com o CAP (Conselho Administrativo Paroquial) e com o CPP (Conselho Paroquial de Pastoral) reuniram-se com o objetivo de traçar metas para a retomada da condução das obras da reforma, para que as missas voltem logo a ser celebradas na capela!
Contamos com a ajuda de toda a comunidade para ver a capela, que está ficando linda, ser terminada em breve. Se Deus quiser, no próximo ano a sua festa será celebrada na sua própria casa. Santa Maria Goretti, rogai por nós! (PasCom – Paróquia Santa Luzia).

TESTEMUNHO - CERCO DE JERICÓ - "PARA DEUS NADA É IMPOSSÍVEL"


“PARA DEUS NADA É IMPOSSÍVEL”!

CERCO DE JERICÓ – 10 A 17 DE JUNHO
            No dia 10 de Junho, demos início a mais um Cerco de Jericó em nossa comunidade paroquial de Santa Luzia, evento que também já é tradição, com a participação de pessoas de diversas comunidades de Bauru. A pregação da Palavra de Deus, o louvor, a adoração e a oração nas duas missas diárias são o ponto alto dessa semana especial.
Em cada missa, houve um “tema”, um assunto abordado que estava sempre relacionado com a Palavra de Deus naquela liturgia. A participação foi outro ponto alto, não apenas de pessoas de outras comunidades paroquiais, mas também de outras denominações cristãs puderam se encontrar com Jesus, dedicarem seu tempo a rezar, a refletir e agradecer a Deus por tantas graças, e inclusive, algumas retornaram para a sua casa, a Igreja católica!
São muitos os testemunhos dessa semana em que houve intenso atendimento de confissões. Algumas pessoas voltaram a confessar-se depois de muitos anos, e consequentemente, o número de comunhões foi grande também. A seguir, algumas pessoas responderam perguntas sobre seus sentimentos e impressões, sua participação no “Cerco de Jericó”:

Acompanhe as perguntas feitas pela PasCom e as respostas das pessoas as mesmas perguntas:
1-     Como você ficou sabendo que havia em nossa Paróquia o 8º Cerco de Jericó?
2-     Qual foi sua expectativa?
3-     Teve algum tema com qual você se identificou mais?
4-     Qual foi o momento mais marcante para você? Algo especial lhe chamou a atenção?

Entrevistados:
Carlos Eduardo Pereira de Souza – Paróquia Santa Luzia e Capela Nossa Senhora Aparecida.
1-     Fiquei sabendo através do Jornal da Cidade.
2-     Estava buscando encontrar um momento de oração mais íntimo com Deus, pois estava precisando.
3-     O tema com qual me identifiquei foi: “A lei de Deus salvação para a vida”.
4-     O evangelho foi muito bom, mas a passagem do santíssimo me emocionou.

Cristina Maria da Costa Silva – Paróquia Beato José de Anchieta - Comunidade Santo Expedito
1-     Tive conhecimento do Cerco de Jericó através de uma amiga que me convidou.
2-     Fui participar desejando alcançar graças e também agradecer.
3-     O tema mais forte para mim foi “Derrubar as muralhas e vencer o mal”. Acreditei que as muralhas derrubadas significavam deixar o passado para trás, deixando Deus agir em minha vida, crendo fielmente que tudo dará certo, pois Ele está comigo.
4-     O louvor, os cantos me chamaram bastante a atenção, pois gosto muito. Porém na hora da consagração do pão e do vinho, corpo e sangue de Jesus, no último dia, quando as luzes se apagaram deixando somente o altar iluminado, eu pude concentrar-me, me entregar a Jesus naquele momento tão importante.

Kelly Beatriz Freitas de Carvalho – Paróquia Santa Edwiges
1-     Como este foi o 3º ano que participo, fiquei atenta às datas e minha prima me informou sobre o início.
2-     Neste ano fui para agradecer, pois gosto muito de participar, eu me encantei desde o primeiro e quero participar sempre.
3-     Gostei muito do tema relacionado: “Maria, minha Mãe, amparo e proteção!
4-     Gostei muito da época do ano em que foi realizado o Cerco de Jericó. Também os evangelhos e as homilias, pois todos estavam relacionados com a realidade das famílias, o que me ajudou a refletir.

Maria Piacenço de Freitas – Paróquia Santa Edwiges
1-     Fiquei sabendo através da minha filha.
2-     Minha expectativa foi de melhorar minha vivência familiar com meu marido.
3-     Gostei muito da leitura que falou sobre a providência de Deus na casa de uma viúva quando ela hospedou o profeta Elias, mesmo com pouco alimento, Deus não permitiu que se acabasse o seu óleo nem a sua farinha.
4-     Todas as vezes que o Santíssimo passava por mim, eu me emocionava e tinha vontade de chorar de tanta alegria.
(Fernanda Borges – PasCom da Paróquia de Santa Luzia)


sábado, 7 de julho de 2012

DEUS: FORÇA E SUSTENTO NA FRAQUEZA HUMANA!

(Liturgia do Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum)

O tema apresentado nas leituras deste décimo quarto domingo do Tempo Comum é particularmente sugestivo.
Aparentemente, parece uma contradição que Deus, o Poderoso, seja capaz de manifestar-se no ser humano, também através da sua fraqueza.
Na primeira leitura podemos ouvir como o profeta Ezequiel (2,2-5) é enviado aos israelitas para proclamar a Palavra de Deus. Deus, porém, desde o início, lhe avisa que a Sua Palavra não será acolhida por esse povo rebelde. Os israelitas reservaram ao profeta o mesmo tratamento que deram ao Senhor, ou seja, o não acolhimento da Palavra.
Na base dessa situação de não acolhimento da Palavra está uma atitude de rebelião e de endurecimento do coração. O povo é composto, de fato, de filhos teimosos e de coração endurecido! Contra a teimosia do povo e o endurecimento do coração, Deus não pode fazer nada!
Mas que sentido tem o exercício do ministério profético, quando já se sabe que a Palavra não será acolhida? Faz sentido anunciar a vontade de Deus quando já se sabe, antecipadamente, que não será aceita? O ministério profético não será um exercício inútil, uma perda de tempo?
O livro do profeta Ezequiel nos diz que não! Ainda na recusa da verdade, que é consequência lógica do bem mais precioso que Deus deu ao homem, isto é, a liberdade, se manifesta um importante elemento da missão profética. Trata-se de dar e ser testemunho de Deus! Isto é, o profeta não anuncia a Palavra de Deus para “vencer” ou para ter razão. Ele é chamado a desenvolver a sua missão numa profunda liberdade interior, sem procurar o consenso ou a aprovação, tampouco almejar como critério da sua missão, a popularidade e a acolhida. A sua missão é levar uma mensagem que não é sua, mas de Deus. É necessário considerar que Deus é quem realiza!
Deus respeita a liberdade do homem, pois sabe que o homem pode recusar acolher a sua mensagem. Contudo, o avisa através dos profetas, que um dia, depois de ter experimentado as consequências da dureza do seu coração e da rebelião às Suas coisas a humanidade, repensando sobre as suas palavras, poderá se arrepender.
Aqui há um aspecto importante da profecia. As pessoas saberão que no meio deles está um profeta, não tanto porque o profeta é alguém poderoso, respeitado e bem aceito, mas pelo contrário, porque ele é derrotado, ou como se diz por aí, um perdedor. O que importa, aos olhos de Deus, é a realização de sua vocação e o testemunho que ele dá.
Deus é capaz de conferir ao profeta a Sua identidade e ao mesmo tempo fazer com que esta seja reconhecida pelo povo, inclusive através da experiência da fragilidade e das falhas humanas. Esta palavra nos recorda como é importante, para os cristãos, ser testemunhas da Palavra de Deus, mesmo naqueles contextos em que dificilmente o testemunho será acolhido. O êxito do testemunho não depende de nós! Somos “servos inúteis”. Quando fizermos aquilo que nos foi mandado fazer, deixemos que Deus dê a força que nós não temos e que realize o Seu projeto.
Uma temática semelhante é apresentada na segunda leitura. Paulo reclama de um “espinho na carne” que o atormenta e do qual gostaria de ser libertado. Embora não saibamos exatamente do que se trata, podemos supor que, certamente, era algo que o perturbava, atrapalhava e que tornava difícil a sua missão profética. Ele diz que orou a Deus por três vezes para que Ele o libertasse daquele “espinho”. Mas a resposta que obteve é algo verdadeiramente surpreendente: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se manifesta”.  Na bíblia encontramos diversas vezes expressões que nos recordam essa realidade, quando Deus fala como falou a Paulo: “não quero que penses que venceste graças à tua coragem ou bravura, ou que é por ela que alcançaste o sucesso”etc.
Para evitar que Israel se ensoberbeça e atribua a si mesmo o mérito de certas vitórias, até mesmo Deus pede algo estranho, como por exemplo, quando pede para diminuir o número de soldados na batalha ou quando pede para realizar algumas ações incompreensíveis, isto é, humanamente sem lógica. Objetivo de tudo disso é que fique bem claro que a obra é de Deus e não do homem.
Paulo também faz essa experiência “para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse... para que eu não me exalte demais”!
            A fim de que Paulo não possa pensar que as conversões suscitadas pela sua pregação são fruto da sua eloquência ou da sua capacidade comunicativa, Deus lhe põe um “espinho” na carne, e assim, deste modo, se realiza aquilo que Deus quer. Trata-se de deixar claro que a obra é de Deus e não humana, ele passa a ser reconhecido como profeta do Senhor e, através da experiência da limitação humana, torna-se instrumento do poder de Deus.
Tanto Paulo como Ezequiel são apenas instrumentos e, como tal, também fazem a experiência da inadequação e da derrota. Paradoxalmente, graças a esta inadequação, isto é, à falta de correspondência com tão alta missão, serão reconhecidos como instrumentos de uma mensagem que não é deles, mas de Deus.
Para nós cristãos também vale esta regra. O testemunho que devemos levar ao mundo não é o testemunho de nós mesmos. Somos apenas portadores da Palavra de Outro. Devemos fazê-lo com coerência e caridade, fazendo o melhor que pudermos, para que essa Palavra seja acolhida, mas devemos sempre deixar o êxito para Deus, para que a sua vontade seja feita.
Agindo assim poderemos, talvez, também nós chegar a reconhecer: “... quando eu me sinto fraco, é então que sou forte”, o que equivale a dizer, quando sou apenas um instrumento, Deus pode agir em mim.
Finalmente, o Evangelho recupera ainda o argumento das duas leituras. O próprio Jesus, o Filho de Deus, faz a experiência que Ezequiel e Paulo fizeram. No Seu caso o limite não se constitui de uma rebelião aberta do povo ou de um problema ou limitação humana da Sua pessoa, como no caso dos dois. Trata-se do fato de encontrar-Se na Sua pátria, entre o Seu povo, entre as pessoas que O conhecem e comentam: Este homem não é o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? Suas irmãs não moram aqui conosco”?
 “E ficaram escandalizados por causa dele”! É muito forte este registro no evangelho de hoje. A palavra "escândalo" vem do grego e significa "tropeço”, obstáculo para derrubar alguém. O obstáculo, humanamente falando, para Ezequiel, foi colocado pela rebeldia do povo, pessoas coração endurecido. Já para Paulo, o obstáculo era a própria limitação humana.
O obstáculo para Jesus é encontrar-Se em meio às pessoas que mais deveriam acolhê-Lo. Pessoas que não conseguem imaginar que Ele mesmo, o carpinteiro conterrâneo, pudesse ser o Filho de Deus.
Essa atitude do povo gera a incredulidade, a indisponibilidade e incapacidade para acolher o dom presente na pessoa de Jesus. Contra essa incredulidade nem mesmo Ele pode intervir. “E ali não pôde fazer milagre algum”! A falta de fé do homem tem o poder extraordinário de “anular” o poder Deus, obstáculo para que Deus possa agir!
Assim como Ezequiel tinha desanimado diante da rebelião, sendo necessário o Espírito pô-lo de novo de pé, assim como Paulo rendeu-se ao limite da sua humanidade imperfeita, Jesus parou diante da descrença. A liberdade, que se manifesta em oposição rebelde, limite humano ou falta de fé, é uma característica do ser humano.
Às vezes não é usada para o bem e, por isso mesmo, não pode ser chamada de liberdade. Contudo, será sempre a capacidade das pessoas realizarem as suas próprias escolhas, mesmo em oposição ao plano de Deus. Na atitude de Jesus, rejeitado pelo seu povo, podemos ver o que ocorre com tantos cristãos, que experimentam a dificuldade de testemunhar a sua identidade, até mesmo dentro de suas próprias famílias, comunidades religiosas ou nos ambientes onde são bem conhecidos. Jesus também conheceu esse limite.
Concluindo, a liturgia de hoje nos convida a realizar um profundo ato de humildade. “Somos servos inúteis, fizemos somente aquilo devíamos fazer”. Portanto, quando nos esforçamos sinceramente para viver de acordo com o Evangelho, deixemos o êxito nas mãos de Deus.
Uma lição para nós, nesses tempos da busca pelos holofotes, tempo de celebridades e de busca pela fama, inclusive entre nós. A imprensa, de vez em quando divulga as consequências desse equívoco, porque nós deveríamos ser apenas profetas, conscientes da realidade que a Palavra hoje nos apresenta! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).