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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 31 de março de 2012

ENTRAR COM JESUS EM JERUSALÉM - SAIR COM JESUS DO TÚMULO

(Liturgia do Domingo de Ramos)

O Domingo de Ramos se apresenta como uma grande porta aberta que nos convida a fazer uma entrada. De fato, neste domingo, entramos, com toda a Igreja no memorial do Mistério Pascal durante a celebração litúrgica desta Semana Santa. Que nos seja permitido servir-nos da entrada por esta porta como fio condutor da nossa reflexão sobre os riquíssimos textos das leituras que nos apresenta. O conjunto das leituras que a liturgia de hoje nos oferece é muito vasto:
- o Evangelho da procissão dos ramos (Mc 11,1-10);
- a leitura do Antigo Testamento (Isaías 50,4-7);
- o Salmo responsorial (Sl 21)
- a Leitura da Carta do Apóstolo Paulo (Fl 2,6-11)
- a narração da Paixão segundo o Evangelho de S. Marcos.
Neste conjunto as leituras estão, podemos dizer, conectadas por um estreito tema. Como não é possível uma adequada reflexão sobre cada uma das leituras, deixemos fora o relato da Paixão, que terá o seu lugar central na celebração da Sexta feira Santa, para deter-nos um pouco no Evangelho da procissão dos ramos (Mc 11,1-10).
A proclamação deste Evangelho faz-nos reviver a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Neste contexto, o verbo “entrar” assume um significado fundamental e nos abre os olhos para aprofundar o significado do incomparável mistério que revivemos.
O verbo “entrar” permite-nos fazer uma ligação com a Epístola aos Hebreus da qual nos serviremos, porque nos fornece uma chave de leitura sobre o significado da Paixão e morte de Nosso Senhor.
Jesus entra em Jerusalém num jeito pobre, cavalgando um jumento, mas a atmosfera é de uma entrada triunfal, de um rei vitorioso, particularmente pela exclamação da multidão: “Bendito o que vem, hosana ao filho de Davi”! A aproximação com a Epístola aos Hebreus nos apresenta Jesus mais como Sacerdote que oferece a Si mesmo como sacrifício expiatório pelos pecados do mundo. Por esse motivo a Sua “entrada real” em Jerusalém adquire um significado sacerdotal fornecendo uma luz interpretativa à narrativa da Paixão que será lida como Evangelho da missa.
            Vamos à carta aos Hebreus: “...A primeira Aliança tinha normas para o culto e um santuário que pertencia a este mundo. De fato, foi construída uma primeira tenda, chamada “o Santo”, onde se encontravam o candelabro, a mesa e os pães da proposição. (...) Estando tudo assim disposto, os sacerdotes a todo momento entram na primeira tenda para realizar o culto. Na segunda tenda, porém, só entra o sumo sacerdote, uma vez por ano, levando o sangue que ele oferece por si mesmo e pelos pecados do povo. (...) Cristo, porém, veio como sumo sacerdote dos bens futuros. Ele entrou no Santuário através de uma tenda maior e mais perfeita, não feita por mãos humanas, nem pertencendo a esta criação. Ele entrou no santuário, não com o sangue de bodes e bezerros, mas com seu próprio sangue, e isto, uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna. De fato, se o sangue de bodes e touros e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santificam, realizando a pureza ritual dos corpos, quanto mais o sangue de Cristo purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! Pois em virtude do Espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha” (9,1-2.6-7.11-14).
            O sacrifício de Cristo foi um sacrifício pessoal e existencial, porque ofereceu a Deus não uma vítima animal, mas a própria vida! Ele fez de Si mesmo a vítima sacrificial, e pelo fato de ter oferecido a Si mesmo, o seu sacrifício não foi exterior à Sua pessoa, mas foi um sacrifício voluntário, de Si mesmo.
            Diferente dos sacerdotes do Antigo Testamento, que buscavam o perdão também pelos seus próprios pecados, Cristo pôde elevar um sacrifício deste gênero porque era verdadeiramente “sem mancha”. Consequentemente, Deus Pai o acolheu.
            A dimensão sacrificial foi que animou todo evento terreno de Cristo desde a sua encarnação. Voltemos à Carta aos Hebreus, que faz a ligação explícita com o culto do Antigo Testamento: “Pois é impossível eliminar os pecados com o sangue de touros e bodes. Por essa razão, ao entrar no mundo, Cristo declara: “Não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste um corpo para mim. Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado. Então eu disse: Eis que vim, ó Deus, para fazer a tua vontade, como no livro está escrito a meu respeito”. (...) É em virtude desta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas” (10, 4-7.10).
            Este “entrar” de Jesus no mundo indica que na Sua missão, aceita desde o início, Ele estava consciente do seu “dever tornar-se sacrifício”, o verdadeiro e verdadeiramente eficaz sacrifício de expiação de todos os pecados, que na Paixão atinge a sua máxima realização, porque mais do que nunca, Ele sacrificou a própria vontade para levar a termo a missão divina.
            A amplitude desta reflexão sobre o texto da carta aos Hebreus, deveria fazer-nos entrar mais facilmente no sentido das leituras da liturgia de hoje.
            A primeira leitura (Is 50,4-7), faz parte do Dêutero Isaías e nos apresenta a figura do Servo Sofredor. Ele aparece como um personagem ao qual está ligada uma missão ativa no desígnio de salvação universal. Ele não é somente “o lugar” no qual o desígnio de Deus se manifesta e brilha diante de todos, mas assume um papel ativo de mediação.
            O Seu sofrimento não é apresentado como consequência do pecado e/ou infligida por Deus como um castigo purificador, mas como algo inerente à Sua missão salvífica. Ele recebeu, antes de tudo, um dom de Deus: a capacidade de falar e de aliviar os cansados e abatidos. A possibilidade de dizer a palavra certa é fruto da constante atenção no confronto com a Palavra do Pai e, por outro lado, é fruto também da capacidade de perceber a vontade de Deus como seu dom, ao qual o Servo se coloca totalmente disponível. A capacidade de escuta, torna-se capacidade de acolher o desígnio de Deus para poder estar a serviço do ensinamento e da clareza da fé, bem como de conforto aos cansados e abatidos.
            A segurança do Servo está unicamente na fidelidade ao Senhor e a perseguição que deve suportar é uma perseguição ligada à vocação profética e missionária no âmbito da fidelidade a Deus.
            A narração da Paixão em Marcos, na liturgia da missa de hoje, quer claramente apresentar Jesus como o “Servo de JHWH” (IAVÉ), mostrando que Jesus atende à expectativa à pessoa do profeta. Os ultrajes, que parecem uma vitória sobre Jesus são, na realidade, não uma derrota do plano de Deus, mas a sua profunda realização. Por isso Jesus é a chave que permite a nós, hoje, compreender em profundidade o texto de Isaías.
            A segunda leitura (Fl 2,6-11) nos leva ao coração do mistério da Paixão de Jesus: aquele Seu “entrar” se manifesta aqui em toda a sua dimensão de sacrifício aceito, sacrifício “querido” que envolve todas as dimensões existenciais deste Filho totalmente disponível ao querer do Pai. Paulo, que utiliza este hino para os cristãos como motivação profunda para enfrentar as situações difíceis que se apresentam na missão da evangelização, formulou o mistério de Cristo como mistério de “abaixamento” e de “exaltação”, como realização da figura profética do Servo de JHWH (IAVÉ).
            A liturgia de hoje se apresenta para nós, portanto, como um convite a “entrar” com Jesus na grande celebração da Semana Santa, para sermos juntamente com Ele, vítima e sacerdote, carregando com Ele as nossas ansiedades, sofrimentos e o pecado de toda a humanidade, para oferecer nossas vidas ao Pai, entrando no Templo que é o corpo de Cristo, para esperar, com plena confiança, ressurgir com Ele, participando da humanidade transfigurada na nova Jerusalém, ao sair com Ele do túmulo! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).


quinta-feira, 22 de março de 2012

MORRER PARA VIVER E PERDER PARA TER!

(Liturgia do Quinto Domingo da Quaresma) 



 Neste quinto domingo da quaresma a Palavra de Deus apresenta Jesus como o enviado de Deus que, de fato, na sua liberdade, decide e indica o caminho da sua missão em direção à cruz, enquanto mostra aos seus discípulos a direção a seguir na vida.
Ele nos revela o roteiro da sua missão que, no episódio do Evangelho deste domingo, vem logo após a sua entrada triunfante em Jerusalém, no contexto da festa da Páscoa, quando assumirá a Sua Paixão e morte na cruz.
Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”, são as palavras que Jesus pronuncia diante do pedido de alguns gregos para encontrá-Lo e vê-Lo. Toda a missão de Jesus no Evangelho de João está direcionada para “a hora”, isto é, o momento em que Ele manifestará a glória de Deus Pai.
Essa “hora” tem lugar justamente na Cruz, que assume um tom de realeza e de vitória de Deus sobre o “príncipe das trevas”. A “hora” da cruz de Jesus é a hora na qual o grão de trigo, cai na terra e morre, produzindo muito fruto.
Muitas vezes, uma aplicação moral precipitada, fez desta parábola do Grão de trigo uma metáfora para a nossa vida mostrando o lado severo, ascético e sacrificial da vida cristã. É importante lembrar que Jesus não está falando de nós, os discípulos, mas da Sua própria missão e da Sua cruz, portanto, de Si mesmo! Assim, o grão de trigo é Ele que, através da Sua morte, oferece a todos os homens os frutos da Sua Paixão!
O Evangelho de hoje, mais uma vez, reafirma o ponto de partida da nossa fé, ou seja, o ponto de partida para a festa da Páscoa que já está chegando. Este ponto é sempre Jesus que dá o primeiro passo em direção à nossa vida.  
Sem a cruz e a morte de Cristo a nossa vida não poderá produzir nenhum fruto. A fecundidade ou esterilidade não depende da nossa capacidade de fazer sacrifícios ou de suportar o sofrimento, mas depende, acima de tudo, da capacidade de acolher os frutos da cruz de Cristo!
Jesus morre na cruz para restituir-nos o fruto da libertação de tudo o que nos confunde, é mentiroso e medíocre e de tudo o que nos torna escravos. Nosso Senhor morreu na cruz para que pudéssemos gozar do fruto da misericórdia infinita de Deus, que nos resgata do pecado e nos reergue de qualquer situação, pagando Ele mesmo o preço pelas nossas culpas.
A Sua morte produz para nós o fruto da Igreja, chamada a levar a mensagem da confiança e da esperança a toda a humanidade descrente e sem projeto de futuro.
Nestes poucos dias que precedem à Páscoa do Senhor, paremos um pouco diante do crucificado para pôr sobre os Seus ombros tudo aquilo que, somente com a Sua graça, pode “morrer” em nossa vida, para depois produzir frutos . Refiro-me a todas as escolhas e decisões que temos que fazer em nome do amor, e que exigem de nós sofrimento e sacrifício, de modo que a Sua morte nos dê os frutos da liberdade e nos resgate de uma vida sem sentido e medíocre.
Jesus nos deixa uma direção e uma decisão a tomar, isto é, depois de ter revelado “a hora” da sua missão e de sua glória, fala aos seus discípulos: “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer me servir, siga-me e, onde eu estou estará também o meu servo”.
A Sua palavra no Evangelho interpela a nossa liberdade, mostrando-nos a direção para tornar-nos seus discípulos; direção que passa por um paradoxo terrível e maravilhoso: morrer para viver e perder para ter! Ele quer doar-nos a Sua própria glória, não a glória vã do mundo, mas a glória autêntica que abre a nossa vida para a verdade do que nós somos chamados a ser.
O termo “vida” (perdê-la ou ganhá-la) aqui tem tudo a ver com significado da expressão “amor próprio”. A nossa vida será autêntica quando escolhermos passar da lógica do possuir e do vencer _, isto é, a lógica centrada em nós mesmos, calcada nos nossos próprios projetos fechados em nós mesmos, sobre as nossas satisfações e direitos pessoais, _ à lógica do “ser e do perder”.
Há uma palavra que João usa de modo diferente dos outros evangelhos que serve como um pressuposto para seguir a Jesus: servir!  Antes de seguir Jesus devemos decidir transformar a nossa vida com a Sua graça, no serviço e em missão. Isto é, decidir começar a ver a nossa vida em função dos outros, das pessoas que o Senhor nos confiou, seja o esposo, a esposa, o vizinho, os filhos, os doentes, o rebanho, o trabalho pastoral, a obra social, enfim, as pessoas com as quais, de um modo ou de outro, somos chamados a nos relacionar.
A minha vida, os meus amores se tornarão autênticos e frutuosos quando não começarem mais a existir exclusivamente a partir da busca da satisfação dos meus desejos, do meu bem ou do prazer unicamente meu. Os meus amores serão autênticos na medida em que partirem da busca do bem do outro! Nossa vida será, realmente, autêntica, quando o ponto de partida não for mais os nossos projetos egoístas, mas a busca da vontade de Deus, oferecendo os próprios frutos surpreendentes e abundantes que Jesus realiza com a Sua morte na cruz! Que o Senhor Jesus nos dê a graça de acolher os frutos da sua cruz e de decidir tomar, com coragem, a direção que abre o caminho de nossa vida. Uma vida, de fato, autêntica! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Superior dos Missionários Inacianos – formador@inacianos.org.br – Website: www.inacianos.org.br).

segunda-feira, 19 de março de 2012

RETIRO OBLATOS INACIANOS - CONVENTO SANTO INÁCIO MÁRTIR

 
RETIRO DOS OBLATOS

Mais uma vez Oblatos Inacianos estiveram reunidos, no Convento Santo Inácio Mártir, para o 1º Retiro do ano, em momento de espiritualidade que teve como tema: “CONVERSÃO”, que deverá sempre acontecer em nós para que a caminhada seja verdadeira.
Na oração inicial do retiro Frei Djalma M. Martins (noviço) enfatizou o Ano Vocacional Inaciano (AVI 2011-2012) apontando a vocação religiosa como oportunidade para vivenciar de modo mais profundo a nossa consagração. Os momentos de retiro e aprofundamento espiritual são momentos fortes para o amadurecimento no Carisma, e força para que a fraternidade dos Oblatos seja perseverante na caminhada e na unidade da Família Inaciana.
Frei Alfredo Francisco de Souza, superior e nosso diretor espiritual conduziu o retiro voltado ao tempo da quaresma e à conversão, fundamentando o tema na Sagrada Escritura, trouxe várias passagens bíblicas levando-nos a refletir se, realmente, estamos nesse caminho para conversão ou se Jesus nos dirá que jamais soube quem somos nós (Mt, 7,21-23). A salvação é dom de Deus que dá o primeiro passo. A salvação não vem do homem, só do amor de Deus.
Quem ama sempre dá o primeiro passo no caminho da salvação. Após, houve um momento de reflexão pessoal no deserto, meditando a partir dos textos bíblicos voltados para o nosso dia-a-dia de consagrados, chamando-nos a redescobrir que não existe conversão sem arrependimento, como também, a olhar para nós mesmos e ver o que mudou a cada dia. Crer significa obedecer. Que a exemplo de Santo Inácio de Antioquia nos esforcemos para nossa conversão pessoal, pois a caminhada será em vão se não acontecer mudanças em nós. Que Deus seja louvado por esses momentos fortes de oração e aprofundamento da nossa vida de Oblatos Consagrados.
(Elizabete Alfredo – Presidente da Fraternidade Inaciana dos Oblatos de Bauru)