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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 28 de setembro de 2013

SALVAÇÃO OU CONDENAÇÃO ETERNA?

(Liturgia do Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum)
Assim diz o Senhor todo-poderoso: Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que se sentem seguros nas alturas da Samaria! Os que dormem em cama de marfim, deitam-se em almofadas, comendo cordeiros do rebanho e novilhos do seu gado... os que bebem vinho em taças...não se preocupam com a ruína de José. Por isso, eles irão agora para o desterro, na primeira fila,e o bando dos gozadores será desfeito”!
O Profeta Amós faz esta denúncia na primeira leitura deste Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum (6,1-4-7).
Este triste quadro pintado pelo Profeta sobre a sociedade do seu tempo, guardadas as devidas proporções, é o retrato do que também acontece em nossa sociedade hoje.
De fato, as revelações mais incisivas que percebemos na denúncia é, em primeiro lugar, que quem traça este quadro dos “despreocupados”, não é um sociólogo ou um ativista político, mas é o próprio Deus.
Os “despreocupados” de Sião se assemelham muito aos cristãos que se desviaram da mensagem de Cristo e da Igreja. Já os que estão “seguros sobre a montanha da Samaria”, que aqui é emblema do mal e da idolatria, se assemelham muito às pessoas da nossa sociedade descristianizada.
Isto é, eles comem, são assíduos sustentadores do consumismo hedonista e materialista. Cantam. O problema não é cantar, mas esses preferem sempre os mega-concertos, as boates e os estádios lotados ao silêncio de uma montanha ou de uma igreja.
Bebem vinho, e facilmente são capturados pelo uso de drogas e afins, ou se inebriam com toda a sorte de mensagens midiáticas. São aqueles que “não se preocupam com a ruína de José”.
Aqui o termo José pode ser compreendido como o bem comum, deliberadamente ignorado, principalmente pelos que ocupam as cadeiras da administração pública ou quando são responsáveis por instituições públicas.
Nesse caso, quando se trata de pessoas, de seres humanos, não cuidam e não se importam com o seu bem moral ou espiritual.
Que futuro pode ter uma civilização que vive assim? Obviamente, terá o mesmo futuro do povo de Israel denunciado pelo Profeta. Será um futuro de exílio, compreendido como o fracasso total ou parcial da própria vida pessoal e social.
Num futuro assim está decretado o fim da abundância, da vida fácil e agradável, pois o “vinhedo” de suas vidas e da própria sociedade será entregue a outros. Naquele momento a “orgia” dos bons tempos acabará.
Acabará porque esse tipo de sociedade está doente. Perdeu a vontade de lutar, apresenta valores inúteis ou vazios diante das grandes questões humanas. É uma sociedade que engorda e esbanja enquanto milhares passam fome. Uma sociedade que se tornou “cristofóbica” e que não tem fé, que transformou a liberdade em puro permissivismo!
Diante de uma situação assim escandalosa, a Palavra de Deus propõe um manual a ser seguido, apresentado por São Paulo na segunda leitura da primeira carta a Timóteo (6,11-16). “Tu, homem de Deus, foge das coisas perversas, procura a justiça, a piedade, a fé, o amor, a firmeza, a mansidão... até a manifestação gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo”.
 Se lêssemos o versículo 10 perceberíamos que Paulo ainda aponta onde está a origem, a raiz dos males que ele combate com a apresentação desse manual de uma vida nova: “A raiz de todos os males é o apego ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6,10).
Trata-se de um “vade-mecum” altamente terapêutico para uma sociedade hedonista e perdida nos valores. Foi sugerido a Timóteo, seu discípulo e bispo, e sua comunidade, mas que se aplica perfeitamente a nós e ao nosso tempo.
Na verdade, Paulo nos chama a tomar consciência da nossa pertença a Deus: “tu, homem de Deus”. Isto é, não pertencemos à Terra, porque fomos revestidos da dupla dignidade de pessoa, que reflete a imagem de Deus, e da Sua filiação adotiva.
Portanto, a proposta de Paulo para que vivamos de acordo com essa dignidade é a justiça, compreendida como santidade, a piedade, como diálogo constante com Deus, a fé, como adesão livre e alegre à mensagem de Cristo e a caridade, sobretudo como exercício de paciência, de compreensão e de mansidão para com tudo e todos.
Finalmente, nos lembra da vinda final de Cristo, para a qual devemos estar sempre prontos e vigilantes para o encontro final e mais importante da nossa vida, como nos ensina São Gregório Magno, quando nos exorta a manter sempre viva essa espera vigilante: “que nenhuma prosperidade vos seduza, porque tolo é o viajante que durante o caminho pára para admirar os belos prados e se esquece de ir onde tinha a intenção de chegar”.
O Evangelho (Lc 16, 19-31) apresenta dois personagens imaginários que encarnam bem o “processo terapêutico” proposto pela Palavra de Deus. O primeiro é o homem rico. Ele é emblema atualíssimo dos “despreocupados” de hoje e é símbolo perfeito do egoísta, do hedonista e dos grandes “gozadores”.
O que se pode dizer a seu respeito é o que reza o salmo 48: “O homem na prosperidade não compreende, é como os animais que perecem. Esta é a sorte de quem confia em si mesmo... a morte será o seu pastor... todo o seu orgulho vai acabar, a mansão dos mortos será a sua morada”.
O segundo personagem é Lázaro. O nome Lázaro significa “amparado por Deus”. De fato, já diz tudo. Lázaro, o pobre, é símbolo de todos aqueles que, no plano pessoal vivem em situações de pobreza moral e espiritual. Socialmente falando, ele tem que se contentar com as migalhas que, acidentalmente, caem da mesa dos ricos e poderosos.
O que dizer do destino destes dois personagens tão controversos? Em princípio, podemos dizer que a salvação é destinada a todos, de acordo com a liberdade de cada um.
Para o rico está reservada condenação, enquanto para o pobre, obviamente purificado interiormente, está reservada a felicidade da salvação.
Surpreendentemente, se quiséssemos avisar ou livrar alguns “candidatos” que persistem na prática do mal, da condenação eterna, o próprio Senhor, pela boca de Abraão, nos diz que eles têm Moisés e os profetas e eles que os escutem!
Mas se não ouvem Moisés e os profetas, mesmo que alguém ressuscitasse dos mortos para avisá-los, não seriam persuadidos a mudar de vida em vista da salvação.
Esta última advertência da Palavra de Deus, sobre cada um de nós, mas também sobre toda a civilização humana que se distancia cada vez mais de Deus, tem um peso enorme. Para evitar que sejamos esmagados por esse peso, não é preciso incomodar os mortos do além.
É suficiente que ainda neste mundo e nesta vida, evitemos esse estilo de vida escandalosa expressa pela postura denunciada pelo profeta Amós e pelo “vade-mecum”, ou seja, pelo manual de uma nova conduta sugerido por Paulo.
Comecemos encarando e com coragem o nosso estilo de vida, nossas escolhas e valores. É o primeiro passo para pôr em prática o ensinamento de Jesus hoje voltado aos fariseus e a cada um de nós. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.brformador@inacianos.org.br).

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

ADMINISTRADORES DOS BENS DO PAI

(Liturgia do Vigésimo Quinto Domingo do Tempo Comum)
No domingo passado tivemos a graça de ouvir um Evangelho que soou como um bálsamo curativo para as feridas do coração.
Ao ouvir as parábolas de misericórdia contadas por Jesus, especialmente a do Pai Misericordioso, nos enchemos da esperança e da certeza de que somos importantes para o Pai, que não se esquece de nós. A misericórdia mostrada ali nos lembrou que não somos “descartáveis’, mesmo quando erramos ou como recentemente afirmou com sabedoria e visão admiráveis o Santo Padre, o Papa Francisco: “Mesmo que a vida de uma pessoa tenha sido um desastre, mesmo que tenha sido destruída pelos vícios, drogas ou qualquer outra coisa, Deus está na vida dessa pessoa”.
É como se Deus tivesse nos lembrado que nós somos apenas filhos e Ele, enquanto Pai que ama, não poderia não buscar e acolher o filho que existe em cada um de nós.
O Evangelho deste vigésimo quinto domingo do Tempo Comum, ao contrário, nos apresenta um exemplo bem embaraçoso. Trata-se de um administrador desonesto.
Chega a ser difícil entender o fato de Jesus tê-lo apresentado como exemplo. Principalmente nesses dias em que a corrupção e a falta de ética tem suscitado reações na sociedade de modo geral, e quando transparência nas relações comerciais e políticas andam tão frágeis. De fato, esta página do Evangelho apresenta a mais assustadora das Parábolas, em minha opinião!
 Aliás, o caráter do personagem do Evangelho não é tão difícil de identificar no passado, nem nos dias de hoje. Na verdade, diz respeito a cada um de nós.
Não é preciso muito para entender e ver como o homem é alguém que recebeu tudo do seu único Senhor, mas o usa ao seu próprio gosto, esquecendo ou recusando entender que, no fundo, ele nada mais é do que um administrador.
Exatamente como exorta o profeta Amós na primeira leitura (8,4-7) denunciando que o homem criou um sistema corrupto e tão injusto, que chega a “dominar os pobres com dinheiro e os humildes com um par de sandálias".
A nossa cultura ocidental criou um sistema baseado no poder econômico, ao ponto de se convencer que não deve nada nem a Deus, nem a nenhum outro que não seja a si mesmo. É uma cultura que gerou uma quantidade imensa de riquezas, que Jesus no Evangelho de hoje define, tranquilamente, como “desonestas”. Na verdade, as riquezas mundanas são, muitas vezes, tão ultrajantes, ostensivas e escandalosas que parecem o resultado de um roubo.
Como definir de outra forma a violenta usurpação que o ser humano é capaz de fazer da função que pertence somente a Deus, bem como a injustiça que produz entre os homens?
A nossa consolação, contudo, está no fato que, com uma atitude quase afável, através da parábola do administrador, Jesus toca exatamente na presunção de quem se ilude, achando que pode acertar, através de uma manobra, as contas em vermelho da história.
É assim que Jesus põe um “freio” no delírio da onipotência onde prevalece o uso das riquezas apenas para benefício e consumo próprios, que anula a capacidade de se compadecer com os que sofrem inúmeras misérias à sua volta!
Gostaria de ressaltar dois aspectos da Palavra de hoje. O primeiro diz respeito ao fato de que o nosso ser discípulos de um Deus Encarnado nos coloca continuamente diante da realidade fascinante do Cristo.
O motivo está no fato de que Ele pregou, convidou e iniciou um processo de mudança do homem e da história humana. Portanto, a fé cristã não pode renunciar ou desistir do seu compromisso de transformar a própria história.
Numa época em que se tende a dar mais atenção às fofocas ou à sensação do momento, às lógicas sem importância e oportunistas, ao invés das grandes e importantes questões da história, esta fé corre mesmo o risco de se alienar do compromisso irrenunciável de influenciar profundamente a história.
Uma vida de fé que se limitasse às experiências interiores sem olhar para questões à sua volta, se distanciaria da dinâmica do crescimento e da construção do Reino em meio aos homens.
Os filhos deste mundo são mais espertos em seus negócios do que os filhos da luz”. Ao que parece, o que Jesus quer nos dizer é que se tivéssemos a mesma paixão pelas coisas do Reino como a que temos pelos interesses próprios e pelas coisas do mundo, o mal e a injustiça jamais venceriam.
Aqui Jesus deixa claro que a força do mundo econômico, às vezes sem qualquer ética ou escrúpulos, é muito mais dinâmica e produtiva do que a força do amor em nossas comunidades cristãs, onde muitas vezes, se instalam sentimentos de desânimo e resignação diante dos desafios atuais.
É preciso despertar a consciência de que somos vencedores neste mundo, e de que só o somos nas pegadas do Mestre! Portanto, riqueza e poder para nós, não são questões de cofres e contas bancárias, mas do coração. Dizem respeito não à quantidade, mas à atitudes!
Nenhum de nós está entre os grandes deste mundo, mas isso não nos exime de nossa responsabilidade! É sempre bom lembrar que, ainda que tenhamos poucos bens materiais, mesmo assim podemos ter uma atitude de apego, ao ponto de nos desviar do verdadeiro objetivo da nossa vida, que é a plenitude do Reino.
Além disso, não podemos mais fugir da exigência convincente de que, enquanto comunidade de ressuscitados, juntos devemos começar a fazer um discernimento sobre novos instrumentos e novos caminhos a percorrer, deixando a imaginação livre à criatividade do amor.
O segundo aspecto que imediatamente se segue é que, para mudar as coisas, é preciso conhecê-las.
O primeiro passo para a partilha e criatividade do amor é o conhecimento aprofundado do mundo, das situações e dos sistemas que fogem ao nosso conhecimento. O conhecimento e a informação é um colocar-se a caminho da partilha e da escuta da realidade para depois, agir como discípulos do Reino!
Na segunda leitura (1Tm 2,1-8) é o próprio Paulo que nos exorta a elevar orações e súplicas pelos governantes do mundo: “Antes de tudo, recomendo que se façam preces e orações, súplicas e ações de graças, por todos os homens; pelos que governam e por todos que ocupam altos cargos, a fim de que possamos levar uma vida tranqüila e serena, com toda piedade e dignidade’.
Certamente, não se trata de um apelo a nos fecharmos na esfera do sagrado, ignorando a realidade concreta do quotidiano à nossa volta. Pelo contrário, o apelo do Apóstolo é um chamado à consciência da realidade que temos que influenciar com os valores da fé que professamos!
Como é bom e reconfortante saber que o próprio Senhor nos chama a ser fiéis que não se contentam com um pouco de moralismo e algumas devoções, esquecendo-se de pregar a conversão do mundo!
Que o Senhor faça chegar direto ao nosso coração o convite final do Evangelho de hoje: “usai o dinheiro injusto para fazer amigos, pois, quando acabar, eles vos receberão nas moradas eternas”.
Aqui “injusto” significa os meios desleais enganosos, que prometem uma confiança e segurança que somente Ele pode nos dar. É preciso estar sempre prontos a colocar esses meios injustos, enganadores e inseguros a serviço daquilo que é segurança e garantia de salvação plena. A saber, a partilha com os pobres! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.brformador@inacianos.org.br).