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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 30 de novembro de 2013

“É HORA DE DESPERTAR”

(Liturgia do Primeiro Domingo do Avento)

A Igreja é a casa de Deus, onde vive uma grande família. É uma grande casa, porque somos muitos, de todos os povos, tribos e línguas (Ap 7.9).
Como toda grande casa, deve ser bem organizada para que tudo corra bem e de maneira eficiente.  Nesta casa o trabalho deve ser realizado em conjunto, e com um único objetivo: manter a casa arrumada e bem preparada para a chegada do Dono da casa. Este é o objetivo final, ao qual estão sujeitas todas as pequenas metas intermediárias: preparar-se para a Sua vinda, sem saber nada sobre o tempo e o momento em que virá. (At 1,7)
A única coisa que sabemos, isto é, o que é certo é que todos nós sentimos um vazio que a vida – inclusive a vida mais confortável e realizada - não pode satisfazer.  Todos nós trazemos dentro de nós, a falta de algo melhor, a falta, por que não dizer, de alguém?  
Todos, mais ou menos conscientemente, aguardamos a vinda de Jesus, o Senhor da Casa, que por Si só é capaz de preencher aquela insatisfação que habita em nós.
Ciente dessa realidade, a Igreja conduz a sua vida litúrgica numa dinâmica que nos ajuda a viver, da melhor forma possível, essa experiência.
É nesse sentido que hoje se inicia o novo ano litúrgico, o Advento. O Advento é o tempo de uma espera alegre, de tomada de consciência da “já presença escondida” de Cristo no meio de nós, mas também é tempo de vigiar, para não cairmos na escuridão do esquecimento, ou da rejeição a Deus.
Neste primeiro domingo do Advento, a Palavra de Deus nos recorda que o mundo precisa de uma força de esperança. Mas a pergunta é o que fazer para obter essa força? Que caminho seguir? E do que se deve tomar consciência?
Como uma força de esperança para o mundo de hoje, escreve o profeta Isaías na primeira leitura (Is 2,1-5): “Acorrerão todas as nações, para lá irão numerosos povos e dirão: ‘Vamos subir ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacó para que Ele nos mostre Seus caminhos e nos ensine a cumprir seus preceitos”.  
Aludindo à vinda futura do Messias, no fim dos tempos, o profeta nos diz que virá um tempo no qual o Monte de Sião, sobre o qual surge Jerusalém se tornará pólo de atração para todos os povos, sinal de pacificação geral, como o próprio nome indica: Jerusalém, cidade da paz. Mas em que condições?
O profeta Isaías assinala duas condições: deixar-se guiar por Deus segundo os Seus caminhos e saber como percorrer esses caminhos.
A Palavra de Deus nos propõe os Mandamentos e as bem aventuranças, como as duas melhores estradas a seguir na vida, para percorrer estes caminhos.
São Paulo, escrevendo aos cristãos de Roma na segunda leitura (Rm 13,11-14), os exorta a praticar alguns imperativos necessários a todos para um bom caminho de fé, e assim Paulo resume: “Vós sabeis em que tempo estamos... já é hora de despertar... despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz”.
Se é urgente despertar, é porque caímos num sono profundo. A verdade é que um dos perigos mais freqüentes da vida cristã, infelizmente, é o sono da consciência, com relação à fé, o sono do coração no que se refere à vida ética e moral, e o sono da missão, no que diz respeito à ação missionária do cristão.
A propósito deste último sono, a parábola da cizânia o ilustra bem. Quando os servos percebem que junto à semente semeada no campo encontraram também a cizânia, o que disse o seu patrão? “Enquanto dormíeis, um inimigo, de noite, semeou a erva daninha”!
Se, infelizmente, hoje no mundo, junto ao bem há também tanto mal semeado, não seria também por causa do “sono” de nós, cristãos? De fato, disse Jesus: “Os filhos das trevas são mais espertos nas suas ações do que os filhos da luz” (Mt. 13, 27-28).
Diz ainda São Paulo na segunda leitura: “Despojemo-nos das ações das trevas e vistamos as armas da luz”. Ou seja, é preciso libertar-se de toda e qualquer possibilidade de fazer mal a si e aos outros, revestindo-se da armadura da luz.
Significa reforçar em nós o viver na transparência das nossas ações, seja diante de Deus, seja diante do próximo, em todas as ocasiões.
Na verdade, isso corresponde a ter uma atitude e comportamento ético-moral na vida pessoal, não imitando os contemporâneos de Noé, que o esnobavam com suas zombarias, e não imaginavam estar indo ao encontro do “dilúvio” das suas más ações, como alerta o próprio Jesus no Evangelho de hoje (Mt 24,37-44).
O apelo é para que nos revistamos de Cristo, vivendo não segundo as exigências dos nossos próprios instintos, mas segundo as metas luminosas do Espírito. Como, então, percorrer os caminhos do Senhor?
Das duas leituras de hoje, resultam três tomadas de consciência por parte de cada um de nós, para evitar andar longe dos caminhos de Deus.
A primeira provém do alerta de Paulo aos fieis de Roma. “A noite já vai adiantada, o dia vem chegando”! É um alerta contra o perigo de uma sociedade que caminha tateando no escuro.
A segunda tomada de consciência provém de um olhar para hoje. Infelizmente, a situação se agravou ainda mais, pelo fato de que o permissivismo desesperado, a indiferença religiosa, a “cristofobia”, a idolatria das novas ciências e tecnologias, constituem um sério perigo para a nossa vida cristã. Contudo, Paulo deixa entrever uma centelha de esperança, mesmo naquele cenário da comunidade dos romanos, porque “o dia”, isto é, a Luz de Cristo não pode ser sufocada por nada, nem por ninguém.
A terceira tomada de consciência nos faz despertar para o “atordoamento” crônico e múltiplo ao qual todos somos diariamente submetidos pelo bombardeio acústico, midiático e informático, que nos leva ao risco de não ter mais o tempo e gosto necessários para silenciar e para refletir.
Que esta Eucaristia, neste início de Advento nos desperte, realmente, para a vigilância como capacidade da mente e do espírito. É esta vigilância que nos ajuda a manter sempre as malas prontas para o imprevisível, no porto da eternidade. É o Senhor mesmo que nos diz no ensinamento do Evangelho de hoje: “Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor.” (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br –formador@inacianos.org.br)

sábado, 16 de novembro de 2013

“É PERMANECENDO FIRMES QUE IREIS GANHAR A VIDA”

(Liturgia do Trigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum)
Geralmente quando passamos por tensões, conflitos e provações, é compreensível que perguntemos: onde está Deus? Por que não intervém? Na verdade qualquer um de nós, nessa situação, gostaria sim de manifestações e soluções imediatas e espetaculares. Mas Deus é paciente. Ainda não é o tempo do grande juízo, pois ainda há espaço para agir e para converter-se. Este é o ensinamento das leituras da missa deste trigésimo terceiro domingo do Tempo Comum.
Ao voltar do exílio os hebreus esperavam paz e bem estar. Mas, continuaram a viver sob o domínio persa. A fé entrou em crise. A religião transformou-se em formalismos. É nesse cenário que o profeta Malaquias lança um vigoroso apelo insistindo que as pessoas devem olhar os acontecimentos e o futuro com esperança, pois a salvação chegará.
Aliás, o Salmo de hoje (97) reforça esta mensagem rezando: Exultem na presença do Senhor, pois ele vem julgar a terra inteira. Julgará o universo com justiça e as nações com eqüidade”.
Que os homens e a própria natureza se alegrem, portanto, porque há sinais claros. Esse dia não será um desastre. Quem confia no Senhor não deve ter medo, nos conforta Jesus.
A esperança da proximidade do “dia do Senhor”, ao contrário, provocou uma atitude passiva e perigosa nos Tessalonicenses, como alerta São Paulo na segunda leitura (2Ts 3,7-12): Ora, ouvimos dizer que entre vós há alguns que vivem à toa, muito ocupados em não fazer nada. Em nome do Senhor Jesus Cristo, ordenamos e exortamos a estas pessoas que, trabalhando, comam na tranqüilidade o seu próprio pão”.
A alienação era tamanha que para eles não havia mais necessidade nem de trabalhar, pois bastava esperar o fim. Essa concepção de uma vinda quase automática do Dia do Juízo não tem nada a ver com a concepção cristã. Na verdade, a espera da salvação final deve, pelo contrário, dar sentido e motivação mais forte ainda às atividades cotidianas. É falando da destruição do Templo de Jerusalém que Jesus ensina sobre o juízo final.
A admiração dos discípulos pela beleza e pela riqueza do templo dá a Jesus a oportunidade de lançar um olhar sobre o futuro. Esta predição sobre a destruição completa do templo, o orgulho de toda uma nação, reforçou a reação dos escribas e doutores da Lei.
Ao anunciar o fim Jesus nos lembra que também o templo do nosso corpo será destruído um dia. Portanto, este corpo que “habitamos”, um bem muito maior do que o Templo de Salomão que suscitava a admiração do mundo inteiro e dos contemporâneos de Jesus, conhecerá a destruição e voltará a ser pobre.
O nosso corpo, por mais maravilhoso que seja é, todavia, perecível e frágil. A sua importância, porém, está no fato de que um dia será chamado á ressurreição.
O respeito pelo nosso corpo e pelo corpo do próximo está, justamente, aí. Este mundo visível também conhecerá o seu fim, como também, para cada um de nós vai haver um fim, um termo que nos afeta pessoalmente. Trata-se da passagem desta vida temporal para a vida eterna, o que significa esperar por um universo maravilhoso que existirá para sempre.
Jesus adverte os Seus discípulos a respeito dos sinais que precederão esse fim. Como sempre, Jesus evita responder à curiosidade vazia e vai direto ao ponto, ensinando o que será necessário fazer para reagir bem nessas circunstâncias cruciais que prepararão o fim.
Sobretudo, Jesus adverte para que não acreditemos muito depressa nos anúncios do fim do mundo. Não haverá um colapso imediato, mas vários, e sinais graduais de um fim que é cada vez mais inevitável.
O discurso de Jesus termina com uma frase que vale ouro: É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” Ou seja, quem perseverar não precisa ter temer!
Os sinais do fim que Jesus descreve nos rodeiam por toda parte. Onde quer que vamos, ouvimos falar de guerras, de perseguições, terremotos, fomes, doenças e muitas outras catástrofes e tristezas.
Será que estamos, então, próximos do fim do mundo? Não sabemos. O que sabemos e o que é certo é que cada um de nós teremos o nosso próprio “fim do mundo”.
E quando certas seitas tentam amedrontar com estranhas interpretações dessas páginas do Evangelho, voltemos com confiança à Palavra de Jesus: “não tenhais medo... erguei as vossas cabeças porque a vossa libertação está próxima”.
O medo é diabólico e a palavra de Deus nunca o incentiva! Esta multiplicidade de religiões, igrejas e seitas que se apresentam com certo aspecto de austeridade, mas que na verdade não o são, é em si um sinal do fim dos tempos, segundo Jesus: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu! ’ e ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! O Evangelho nos pede para rezar e esperar em paz, certos da proximidade de Jesus, que nos ama e nos protege: “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br –formador@inacianos.org.br)


sábado, 2 de novembro de 2013

TODOS OS SANTOS E SANTAS DE DEUS

(Liturgia da Solenidade de Todos os Santos)
Às vezes penso que a vida cristã não consiste em nada muito mais do que aprender a viver cada dia da nossa existência com o desejo de escutar o Evangelho, de fazer da Palavra de Jesus uma presença amiga, uma referência segura.
A liturgia, que nos convida e nos leva ao encontro com Jesus e Sua Palavra. Torna-se, portanto, uma ajuda e, com razão, o Concílio Vaticano II a considera a fonte e cume de toda a vida cristã. Nela, de fato, a Palavra de Deus nos é oferecida de modo que nos permite configurar, dia após dia, a nossa vida concreta com o modelo de Jesus, até aquele encontro final.
Ao longo do ano litúrgico a memória semanal da Páscoa de Jesus é enriquecida pela lembrança do testemunho daqueles cristãos que viveram antes de nós, a maioria em época e contextos muito diferentes dos nossos, e que chamamos de santos. Nós os chamamos de “santos” porque reconhecemos que se configuraram plenamente com o modo de viver de Jesus que, por sua vez, fizeram conhecer com a sua própria vida e com o seu testemunho, o rosto de Deus Pai.
A Palavra “santo”, de fato, é um atributo que a bíblia, em primeiro lugar, usa para Deus. Significa, “separado”, no sentido de diferente. Diferente do homem, não porque está longe, mas porque o homem foi criado por Deus como vértice de toda a criação e Deus, é o seu Criador. Todavia, quando Deus criou o homem, não o criou para que ficasse longe d’Ele, mas para fazer aliança com Ele.
O amor que faz com que Deus realize a criação é o mesmo amor que O leva a oferecer Sua Aliança ao homem, que nada mais é senão um pacto de amor.
Só faz aliança de amor quem sabe que é diferente do outro, mas não quer permanecer longe e indiferente, pelo contrário, sente um grande desejo que o outro esteja unido a ele, ao ponto de assemelhar-se. É por isso que depois de ter libertado o Seu povo da escravidão do Egito, Deus lhe pede, “Sede santos, como eu, o Senhor vosso Deus, Sou Santo”.  
Esta aliança se realiza no momento mais alto da história de Deus com a humanidade, que é a vida de Jesus. Ele, inclusive, manifestou isso aos Seus discípulos quando disse: “Vinde a mim... aprendei de mim que sou manso e humilde de coração”.
Jesus não lhes pede apenas para que imitem os Seus sentimentos, mas para que bebam da Sua mesma fonte, para então, viverem isso nas suas próprias vidas, isto é, o Seu próprio modo de ser e de viver. É exatamente isso que os cristãos santos fizeram. Foram “cristãos completos”.
 No Novo Testamento a palavra “santo” é usada para denominar os cristãos, porque o dom da salvação os justificou e tornou capazes de viverem como Jesus.
Contudo, como todo dom, não é algo imposto, mas oferecido a cada um para que o torne concreto e verdadeiro em sua vida. Neste ponto é que deve começar a resposta de cada um, que é livre e também sujeita às tensões da nossa velha humanidade que resiste às transformações.
Os santos nos ajudam nesse caminho porque nos recordam que não existem condições privilegiadas para responder ao Senhor. Ajudam-nos a lembrar também que cada um pode responder onde, como e quando vive, em sua própria situação concreta, de acordo com quem é.
Na verdade, sabemos que nenhum santo teve condições fáceis ou privilegiadas para se tornar santo. Pelo contrário, tiveram que ser verdadeiros heróis e heroínas.
Os santos nos ajudam também a compreender a Palavra de Deus, porque a explicam não através de palavras ou teorias, mas através de gestos e escolhas concretas. Com nos ajudam a perceber até onde a obediência ao projeto de Deus pode levar uma pessoa.
Como os Santos são muitos, não apenas aqueles que a Igreja reconhece oficialmente, mas também aqueles que Deus acolhe junto de Si, sem que nós o saibamos, a ideia da liturgia de celebrar uma festa de todos os santos é maravilhosa.
Maravilhoso também é saber que podemos nos lembrar daquelas pessoas que nos ensinaram com a sua própria vida como se faz para amar a Deus. E é claro que podemos pedir a ajuda deles e delas, porque cremos que podem interceder por nós junto a Deus.
As leituras desta festa nos levam a fazer um percurso simples e ao mesmo tempo solene entre a terra e o céu.
No Evangelho da solenidade de Todos os Santos (Mt 5,1-12a) Jesus, ao proclamar as bem aventuranças, que são a síntese do Seu Evangelho, nos recorda que Deus se faz próximo, oferece o Seu amor, o Seu Reino a todos, e o faz a partir daquelas pessoas que nós, às vezes, não valorizamos. Trata-se dos pobres em espírito, isto é, aqueles que, como Jesus, tem um coração manso e humilde, aqueles que sofrem, aqueles que amam sem interesses, mas por misericórdia, os que lutam pela justiça e pela paz enfrentando, inclusive, a perseguição, e aqueles que para permanecerem fieis a Jesus e aos projetos do Seu Reino, passam por inúmeras dificuldades. Para essas pessoas Deus Se faz conhecer e faz com que percebam a Sua ajuda. 
É por isso que Ele os chama de “beatos”, ou seja, “felizes”. São pessoas que estão no caminho certo, caminho de homens e mulheres que respondem ao seu Criador, ainda que aos olhos humanos, sejam vistos como infelizes.
Jesus é o primeiro desses “felizes”, enquanto os santos O seguem nesse caminho. Mas se nós quisermos entrar no Reino, se quisermos ser felizes de verdade, somos chamados a percorrer o mesmo caminho.
São João, para exprimir a mesma experiência usa uma linguagem totalmente familiar: “nós somos filhos de Deus, já agora e em plenitude, porque Jesus, o Filho é quem o revelou e abriu para nós a Sua casa”.
É certo que ainda estamos a caminho. Para nós, que ainda vivemos nesta terra, ser filho significa uma série de coisas, mas não sabemos o que será de nós quando Jesus retornar na plenitude de Seu amor.
Continuemos a percorrer o caminho como os peregrinos que iam ao Templo de Jerusalém cantando o Salmo 23: “quem subirá até o monte do senhor?... Quem tem as mãos puras e inocente o coração...”
Na espera da manifestação definitiva, o apóstolo João pode “sonhar”, como faz no Apocalipse, quando fala do encontro final. Na visão, apresentada na primeira leitura (Ap 7,2-4.9-14). Nela João vê uma "grande multidão", composta de cada nação e língua, que canta os louvores do cordeiro, que é o Cristo crucificado e ressuscitado.
Eles trajam vestes brancas e palmas nas mãos. Lavaram suas vestes no sangue do cordeiro, isto é, conformaram suas vidas à de Jesus, percorreram o Seu próprio caminho de morte e ressurreição, e trazem a palma da vitória, que na antiguidade significava o que para nós hoje significa a medalha.
Com a confiança que infunde em nós a esperança de ser sempre mais filhos e filhas e de receber a palma da vitória, caminhemos nas pegadas de Jesus, imitando suas atitudes e comportamentos, porque quem se sente amado não deseja outra coisa a não ser corresponder ao amor que recebe. (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA - Missionário Inaciano - www.inacianos.org.br - formador@inacianos.org.br).


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

“EU SEI QUE O MEU REDENTOR ESTÁ VIVO”

(Liturgia da Celebração dos Fieis Defuntos)

Todos os anos a comemoração dos fieis defuntos nos oferece uma oportunidade da experiência de um momento de silêncio e reflexão.
Muitas famílias, durante o ano vivem, entre outras coisas, a experiência da morte, seja de familiares, entes queridos, parentes ou amigos. Alguns, certamente, viveram essa experiência de modo bem dramático.
O dia de finados, portanto, é um dia para ser vivido no espírito de solidariedade. Aquela solidariedade que permite que a dor de alguém nos “toque” e que nos faz querer ajudar a encontrar o conforto que vem de Deus.
É um dia em que, de modo especial, devemos lembrar-nos daqueles que fizeram parte das nossas vidas e que agora não fazem mais, pelo menos não do mesmo lado da “estrada”.  Além disso, é uma oportunidade valiosa para pensar no modo como estamos vivendo as nossas vidas, e se a estamos acolhendo como um dom precioso, importante e valioso de Deus.
A comemoração dos fieis falecidos é também uma ocasião para voltar o pensamento para o infinito de Deus, para estar em comunhão com quem já está diante d’Ele, contemplando face a face o Seu rosto, mas também para perguntar sobre a razão de tanto sofrimento e para pedir forças para sermos capazes de lidar com ele.
Lembremos as milhares de crianças, adolescente ou jovens que tão cedo perderam os seus pais e vice-versa, nos pais que de um modo triste e nada natural tiveram que presenciar os seus filhos morrerem.
Pensemos também, por um instante, naqueles que acompanharam os seus entes queridos durante um longo período de uma doença sem possibilidade de cura; e também daqueles que, por desespero, tentaram uma saída mais certa, porém, através de um caminho mais “torto”, encontraram a morte.
A solidariedade de que falamos acima nos faz também nos lembrar do povo da Síria, mortos pelos próprios conterrâneos e com tanta violência. Mas não só, com a mesma solidariedade vamos nos lembrar também das crianças e idosos das regiões mais pobres do nosso país, ou até mesmo das grandes cidades. Pessoas que todos os dias correm o risco de encontrar a morte a cada instante, seja pela violência que sofrem, seja pela falta de oportunidade, de cuidados médicos, de alimentação adequada, de educação etc.
Refletindo sobre esses eventos, procuremos estar mais próximos das pessoas que sofreram essas perdas, com um único pensamento voltado a todos aqueles que, de tantos modos diferentes, já cruzaram o limiar da morte.
Que o dia de finados proporcione a cada um de nós não esquecer que somente com a esperança da ressurreição é possível cumprir a história de cada ser humano sem cair no desespero. As leituras que nos são propostas pela liturgia de hoje lançam esta mensagem de esperança.
Na primeira leitura escolhida entre outras para esta celebração (Jó 19,1.23-27ª), a esperança de Jó é uma esperança verdadeira e crível por causa do grande sofrimento que a precede. Além disso, suscita uma maravilha nos seus leitores, quando no final de um percurso muito difícil, Jó nos ajuda a compreender que tal sofrimento permitiu-lhe conhecer mais profundamente o mistério de Deus e dos homens.
A experiência de Jó nos ajuda também compreender que nem todas as perguntas tem uma resposta simples e que ao final de tudo, o mais importante é crescer na fé para percorrer o caminho que nos leva a conhecer a Deus: "Eu sei que meu Redentor está vivo e que, por último, se levantará sobre o pó ... e depois que tiverem destruído esta minha pele, na minha carne, verei a Deus; meus olhos O contemplarão, e não os olhos de outros”! A história de Jó é, de fato, extraordinária, a ponto de transmitir-nos coragem, mesmo diante do maior sofrimento.
Na segunda leitura escolhida para hoje (Rm 5,5-11) a esperança do Apóstolo Paulo nasce da Páscoa do Senhor. A passagem da Carta aos Romanos é apenas mais uma das muitas passagens em que Paulo não se cansa de partilhar conosco a sua relação pessoal com Cristo, de onde vem a sua confiança sem limites: “Quando éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com Ele pela morte do Seu Filho; quanto mais agora, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida”!
Já no Evangelho, também escolhido entre outros (Jo 6, 37-40), a esperança nasce da afirmação forte e clara do amor que Deus Pai tem por todos os homens e que nos foi manifestado em Cristo, Seu Filho: “Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora. Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca, mas que o ressuscite no último dia”(Jo 6,37-39). Este parece ser o motivo convincente da promessa da ressurreição e da vida eterna.
Portanto, foi o amor que levou o Pai ao encontro dos homens e a “doar” o Filho que realiza o projeto da salvação, levando os homens com Ele à vida eterna.
É ainda Paulo que exprime com força na carta aos Romanos que a segurança do amor de Deus deve fazer com que não tenhamos medo de nada, como também deve ser a nossa força e sustento nos momentos de provação: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia; Somos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou”
 (
Rm 8,36-37). (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – www.inacianos.org.br –formador@inacianos.org.br)