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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 29 de março de 2014

DA CEGUEIRA À ALEGRIA DA LUZ


(Liturgia do Quarto Domingo da Quaresma)
“Dar à luz” é o termo que usamos para dizer que uma mulher traz ao mundo uma criança, que uma criança nasce. Um dia, porém, nasceu um menino cego.
Aquele menino, agora adulto, nunca viu a luz. E como não viu a luz, não viu nada, porque é a luz que permite ver as pessoas, as coisas, a natureza que nos cerca, com as suas cores e formas. Somente assim podemos ter ideia da realidade e é assim que a fixamos tudo o que vimos na mente, através da recordação.
Se fechássemos os olhos para tentar fazer a experiência do cego de nascença do Evangelho de hoje, não conseguiríamos. Nem mesmo se imaginássemos que não enxergamos mais, se tentássemos nos acostumar a viver como alguém que só escuta, ainda assim, não poderíamos compreender aquele cego!
Se assim fizéssemos, mesmo quando ouvíssemos a palavra sol, luz ou árvore, nós imaginaríamos as suas formas em nossa mente. Saberíamos do que se trata. Porque já as teríamos visto um dia.
Isto, porém, não acontece com o cego de nascença. Ele não pode imaginar nada, porque nunca viu nada. Mesmo se alguém lhe explicasse o que significa a beleza do sol, redondo, grande e brilhante, não compreenderia.
Para ele a cor “verde” ou “amarelo” não teriam nenhum significado. Aliás, nem mesmo a palavra cor teria sentido. É como se ele tivesse crescido na “noite”.
Enquanto todos os outros meninos tem medo do escuro, para ele o escuro é algo normal. Aquilo que para todas as outras pessoas é normal, para ele é algo difícil, não normal, como andar, brincar etc.
Quando era pequeno, como depois, adulto, é alguém que está sempre à margem do caminho, de ser considerado pelos que o cercam e da faculdade de escolher. Hoje, para os deficientes visuais, graças a Deus, não mais, mas naquela época, trabalhar seria impossível, como também, normalmente, seria impossível ter uma vida normal, namorar, casar etc.
Talvez não se sentia nem mesmo útil, pois é alguém que sempre tinha necessidade da ajuda dos outros para tudo, que se sente inferior, e por isso, está  muito acostumado a agradecer.
Mas é também alguém que desenvolveu muito a capacidade de escutar, como sabemos, e não apenas o conteúdo dos discursos, mas inclusive o tom da voz, os humores e os corações de quem fala.  
Quantas vezes não teria sido alvo das piadas de algum prepotente. Quantas vezes não teria escutado a palavra “coitado”, vinda de alguém que passasse à beira do caminho onde mendigava.
Desde que nasceu a sua condição foi definida como “desgraça” e, desde cedo tinham-lhe ensinado a sentir-se culpado, a considerar-se um desgraçado.
Imaginemos este homem que encontra Jesus e O escuta cuspindo no chão, diante dele. Talvez, a primeira impressão tenha sido a de mais um insulto. Mas já estava acostumado com isso.
Entre os rumores da vida e os ruídos do mercado à sua volta, sentiu a lama ser aplicada sobre os seus olhos. Naquele momento intuiu que a lama é feita com saliva, ou talvez, com lágrima, porque se tem algo com o que está acostumado é com a poeira do chão das estradas e as lágrimas, que lhe são familiares.
Contudo, não protesta, tampouco se defende. Sabe que para sobreviver precisa suportar, além das próprias dificuldades e limitações, também as zombarias. Mas logo depois, escuta aquela voz. O som harmonioso, manso e forte ao mesmo tempo, daquelas palavras é dirigido a ele: “Vai lavar-te na piscina de Siloé”.
Quanto amor, quanta estima naquelas palavras que saíram do coração daquele homem chamado Jesus, cheio de calma e de simplicidade. Palavras vindas de uma alma transbordante de paz e de humildade.
O cego é um “expert” na arte de escutar. Nisso, ninguém pode enganá-lo! Um medo súbito misturado com alegria o toma. Levanta-se, com as mãos sobre o rosto, sentindo a lama que lhe foi aí colocada. Embora o seu maior sonho tenha sido enxergar o que existe fora de si, dentro dele se acende uma esperança.
O homem, então, anda ainda tateando, como sempre, tocando as paredes com as mãos, o chão com os pés, antes de apoiar todo o corpo. Talvez quisesse correr ou andar mais firmemente, mas não consegue. Cada passo dele é sentido como se fosse um quilômetro. Cada segundo, como se fosse um ano.
Jesus não o convida, mas o “envia” à piscina de Siloé. Ele se lava e se vê pela primeira vez refletido na água, ainda um pouco suja e agitada como a sua vida.
Neste ponto podemos imaginar o seu grito, seu desabafo, seu riso e suas lágrimas. Ele olha à sua volta e, pela primeira vez, relaciona os ruídos e os sons que sempre escutou com as imagens e rostos que nunca tinha visto ou imaginado antes. Está atordoado, talvez, como se estivesse embriagado, mas agora, sente-se tão forte como quem tem a capacidade de erguer o mundo com as próprias mãos. Procura aquele homem chamado Jesus, mas não sabe qual deles é, nem para onde foi. À sua volta há muita gente curiosa. E como quando acontece com quem está no meio de da multidão, é “arrastado” para diante dos sacerdotes e dos mestres da lei.
Aqueles que “enxergam e sabem de tudo muito bem”, que “removem a trave” dos olhos do povo cego, para que enxerguem melhor. São aqueles que o povo admira, respeita e teme. Ele, visto sempre à margem, agora está no centro da atenção deles. É interrogado sobre o que lhe aconteceu, sobre aquele que ele ainda não conhece.
Com certeza a alegria de enxergar ainda toma conta dele. Mas, talvez, eles podem “iluminá-lo” sobre o que lhe aconteceu. O verdadeiro drama começa neste momento. Na verdade, o que temos aí é um grande número de “cegos’ em torno da história do cego de nascença. “Os Seus discípulos o interrogaram: ‘Mestre, quem pecou para que nascesse cego: ele ou os seus pais?” Jesus trata de esclarecer que cegos são todos aqueles que “vêem” a doença como uma punição de Deus.
Os discípulos estão tomados pela dúvida e, por conseguinte, fazem a pergunta. Mas se aquele homem era cego de nascença não poderia ter feito nada de mal! Talvez, então, o fizeram os seus pais? Caso contrário, como se explicaria a sua cegueira?
A verdade é que todos nós somos cegos quando após um acidente ou diante de um problema de saúde, ou qualquer situação difícil que nos faz entrar em crise, dizemos, “que mal eu fiz para merecer isso? Por que eu? Por que comigo? como se Deus estivesse nos castigando, é Jesus quem responde: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isso serve para que as obras de Deus se manifestem”!
Jesus nos revela, mais uma vez, que Deus não é sádico. Deus não brinca, não faz piada de mau gosto com a vida dos seus filhos. Deus faz apenas as obras primas da natureza.
Às vezes, são obras como as de Picasso, que não conseguimos compreender, nem apreciar muito bem, como uma grande obra de arte, mas são sempre obras primas que tem um valor imenso.
Deus não pode querer o sofrimento dos seus filhos! Nem mesmo daqueles filhos que tem “culpa no cartório”, ou que são maus. Deus não é um justiceiro. Se Ele permite o sofrimento, é em vista de um bem muito maior. Mesmo quando não se vê com clareza esta verdade, não significa que não seja verdade ou que não acontece.
O que Jesus nos disse hoje no Evangelho (Jo 9,1-41) deve ficar claro, de uma vez por todas: cada situação de crise ou de doença imputável à desordem ou a liberdade mal usada pelo ser humano, acontece para que seja manifestada a glória de Deus em nós. Portanto, aquilo que nós chamamos ou vemos como “desgraça” é mais uma misteriosa e grande oportunidade para experimentar a Graça de Deus.
Na verdade, precisamos atualizar a nossa maneira de ver as coisas e de tirar conclusões dos fatos negativos desta vida, de acordo com o Evangelho de Hoje. “Porventura, também nós somos cegos?” Perguntaram os fariseus, ao que Jesus responde: “Se fosses cegos, não teríeis culpa; mas como dizeis: Nós vemos, o vosso pecado permanece”!
Dizemos que a fé é cega, mas esta expressão contém um grande erro! A verdadeira fé, pelo contrário, faz enxergar aquilo que os olhos do corpo e da simples inteligência humana não vêem. A fé faz enxergar aquilo que Deus enxerga, como nos ensina a primeira leitura de hoje (1Sm 16, 1b. 6-7. 10-13a), “O homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração”!
Somente à luz da fé se pode conhecer o único e verdadeiro Deus, como também é só assim que se pode compreender o Seu pensamento e as Suas ações. Somente à luz da fé se pode reconhecer em Jesus Cristo, o Deus vivente, e somente assim se pode ver, isto é, experimentar concretamente o Seu amor.  
O salmo 22 na liturgia de hoje nos levou a rezar assim: “O Senhor é o meu Pastor, não me falta coisa alguma... pelos prados e campinas verdejantes Ele me faz repousar... Ele me guia no caminho mais seguro ...mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei, porque estais comigo com bastão e com cajado...eles me dão segurança”!
Já a segunda leitura (Ef 5,8-14) nos exorta: “Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Comportai-vos como filhos da Luz”. E o fruto da Luz chama-se bondade, justiça, verdade. Buscai o que agrada ao Senhor. Não vos associeis às obras das trevas, que não levam a nada; antes, desmascarai-as”!
Estamos no meio da Quaresma. Tempo de conversão à Luz que vem de Deus. Diante das catástrofes como a do avião desaparecido, das vítimas das guerras em várias partes do mundo, dos conflitos na Ucrânia, das enchentes e da seca no Brasil, das doenças e tragédias da vida, hoje Jesus nos ajuda a pensar e a “ler” fatos dolorosos assim, à luz do Seu ensinamento, como também já deixou claro em outras passagens como esta: “E quanto àqueles dezoito, sobre os quais desabou a torre de Siloé, que foram mortos quando a torre caiu sobre eles... crêem que eles eram piores do que todos os outros habitantes de Jerusalém?” (Lc 13, 4).
Infelizmente, às vezes, parece que ainda não entendemos que a humanidade é uma grande família e que tudo o que acontece em todas as partes do mundo nos afeta e nos atinge, de certa forma.  Infelizmente também, diante das catástrofes, ainda ouvimos falar que “o cego é cego porque é culpado”, ao invés de fazer do Evangelho de Jesus Cristo a luz para o caminho da nossa vida.
Estaremos mortos, mesmo antes de morrermos, se não cremos na ressurreição dos mortos e n’Aquele que nos guia para a Páscoa. Diante do interrogatório o cego de nascença do Evangelho, certamente, fica decepcionado e confuso diante daqueles que acreditam que enxergam tudo.
Quando o ex-cego de nascença encontra Jesus novamente, ouve d’Ele a pergunta se ele crê, se ele vê no verdadeiro homem Jesus, o verdadeiro Deus, o Salvador do mundo.
Hoje, peçamos ajuda ao cego de nascença para darmos a nossa resposta. Para também nós “estremecermos” diante d’Ele. Para reconhecermos aquela voz e fixarmos os nossos olhares naqueles olhos cheios de luz.
Ajoelhemos com o cego diante de Jesus, agora na Eucaristia. Não porque recebemos um milagre, mas porque cremos que a nossa vida é um milagre, mesmo que, às vezes, envolvida pelas sombras, e porque estamos diante do milagre. Creiamos que Deus nos ama e que está perto de cada um de nós, ainda que não enxerguemos muito bem. Escutemos a Sua voz na Sagrada Escritura e coloquemos em prática o que nos ensina através da Igreja. Vamos ao Sacramento da reconciliação para sermos lavados pelo Seu sangue inocente, para que sejamos curados dos nossos males, das nossas culpas ou da nossa incapacidade de ver como Ele vê tudo o que somos, tudo o que podemos ser, tudo o que nos acontece. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – formador@inacianos.org.br – www.inacianos.org.br).

segunda-feira, 17 de março de 2014

MISSA SANTUÁRIO REDE VIDA - 14-03-2014

NO DIA 14-03-2-2014, A CONGREGAÇÃO MISSIONÁRIA DE SANTO INÁCIO DE ANTIOQUIA, REPRESENTADA PELOS FRADES INACIANOS, OBLATOS INACIANOS E PAROQUIANOS DE SANTA LUZIA DE BAURU ESTIVERAM EM SÃO JOSÉ DO RIO PRETO NO SANTUÁRIO DA REDE VIDA PARA A CELEBRAÇÃO DA MISSA DAS 19 H.

MISSA CELEBRADA POR FREI ALFREDO FRANCISCO DE SOUZA
CONCELEBRADA POR FREI CÍCERO FERREIRA DOS SANTOS

COMENTARISTA: SOLANGE MUNHOZ
1ª LEITURA: FREI JOHNNY SOUZA
SALMO: FREI DONIZETE
PRECES: GISELE SEGUNDO

DEUS, SEJA LOUVADO!