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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sábado, 21 de março de 2015

MORRER PARA VIVER, PERDER PARA TER!


(Liturgia do Quinto Domingo da Quaresma)
Neste quinto domingo da quaresma a Palavra de Deus apresenta Jesus como o enviado de Deus que, de fato, na Sua liberdade, decide e indica o caminho da Sua missão em direção à cruz, enquanto mostra aos discípulos o caminho que devem seguir na vida.
Ele nos revela o roteiro da Sua missão que, no episódio do Evangelho deste domingo (Jo 12,20-33), vem logo após a entrada triunfante em Jerusalém, no contexto da festa da Páscoa, quando assumirá a Sua Paixão e morte na cruz.
Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”, são as palavras que Jesus pronuncia diante do pedido de alguns gregos para encontrá-Lo e vê-Lo. Toda a missão de Jesus no Evangelho de João está direcionada para “a hora”, isto é, o momento em que Ele manifestará a glória de Deus Pai.
Essa “hora” tem lugar justamente na Cruz, que assume um tom de realeza e de vitória de Deus sobre o “príncipe das trevas”. A “hora” da cruz de Jesus é a hora na qual o grão de trigo, cai na terra e morre, produzindo muito fruto.
Muitas vezes, uma aplicação moral precipitada, fez desta parábola do Grão de trigo uma metáfora para a nossa vida mostrando o lado severo, ascético e sacrificial da vida cristã. É importante lembrar que Jesus não está falando de nós, os discípulos, mas da Sua própria missão e Cruz e, portanto, de Si mesmo! Assim, o grão de trigo é Ele que, através da morte, oferece a todos os homens os frutos da Sua Paixão!
O Evangelho de hoje, mais uma vez, reafirma o ponto de partida da nossa fé, ou seja, o ponto de partida para a festa da Páscoa que já está chegando. Este ponto é sempre Jesus que dá o primeiro passo em direção à nossa vida.
Sem a cruz e a morte de Cristo a nossa vida não poderá produzir nenhum fruto. A fecundidade ou esterilidade não depende da nossa capacidade de fazer sacrifícios ou de suportar o sofrimento, mas depende, acima de tudo, da capacidade de acolher os frutos da cruz de Cristo!
Jesus morre na cruz para restituir-nos o fruto da libertação de tudo o que nos confunde, de tudo o que é mentiroso, medíocre, e de tudo o que nos torna escravos. Ele morreu na cruz para que pudéssemos gozar do fruto da misericórdia infinita de Deus, que nos resgata do pecado e nos reergue de qualquer situação, pagando Ele mesmo o preço pelas nossas culpas.
A Sua morte produz para nós o fruto da Igreja, chamada a levar a mensagem da confiança e da esperança a toda a humanidade descrente e sem projeto de futuro.
Nestes poucos dias que precedem à Páscoa do Senhor, paremos um pouco diante do crucificado para pôr sobre os Seus ombros tudo aquilo que, somente com a Sua graça, pode “morrer”em nossa vida, para depois produzir frutos. Refiro-me a todas as escolhas e decisões que temos que fazer em nome do amor, e que exigem de nós sofrimento e sacrifício, de modo que a Sua morte nos dê os frutos da liberdade e nos resgate de uma vida sem sentido.
Jesus nos deixa uma direção e uma decisão a tomar; Depois de ter revelado “a hora” da Sua missão e da Sua glória, fala aos seus discípulos: “Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém quer me servir, siga-me e, onde eu estou estará também o meu servo”.
A palavra de Jesus no Evangelho interpela a nossa liberdade, mostrando-nos a direção a seguir para ser, realmente, discípulos Seus.Trata-se de um itinerário que passa por um paradoxo terrível e maravilhoso: morrer para viver e perder para ter!
A glória prometida à nós por Jesus não a glória vã do mundo, mas a glória autêntica que abre a nossa vida para a verdade do que nós somos chamados a ser.
O termo “vida” (perdê-la ou ganhá-la) aqui tem tudo a ver com  o significado da expressão “amor próprio”. A nossa vida será autêntica quando escolhermos passar da lógica do possuir e do vencer, isto é, a lógica centrada em nós mesmos, calcada nos nossos próprios projetos fechados em nós mesmos, sobre as nossas satisfações e direitos pessoais, _ à lógica do “ser e do perder”.
Há uma palavra que João usa de modo diferente dos outros Evangelhos que serve como um pressuposto para seguir a Jesus: servir! Aliás, este é o apelo da Campanha da Fraternidade deste ano: "Eu vim para servir"!
Antes de seguir Jesus devemos decidir transformar a nossa vida com a Sua graça, no serviço e em missão. Significa decidir começar a ver a nossa vida em função dos outros, das pessoas que o Senhor nos confiou, seja o esposo, a esposa, o vizinho, os filhos, os doentes, o rebanho, o trabalho pastoral, a obra social etc. Enfim, as pessoas com as quais, de um modo ou de outro, somos chamados a nos relacionar.
A minha vida, os meus amores se tornarão autênticos e frutuosos quando deixarem de existir exclusivamente para satisfazer os meus desejos, o meu bem ou o prazer exclusivamente meu. Os meus amores serão autênticos na medida em que partirem da busca do bem do outro!

Então, a nossa vida será, realmente, autêntica, quando o ponto de partida não for mais os nossos projetos egoístas, mas a busca da vontade de Deus, oferecendo os próprios frutos surpreendentes e abundantes que Jesus realiza com a Sua morte na cruz! Que o Senhor Jesus nos dê a graça de acolher os frutos da sua cruz e de decidir tomar, com coragem, a direção que abre o caminho da nossa vida. Uma vida, de fato, autêntica! (Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano – promocaovocacionnal@inacianos.org.br  (www.inacianos.org.br).

sexta-feira, 13 de março de 2015

NO DEUS DA ALIANÇA, FIDELIDADE SEM LIMITES!

(Liturgia do Quarto Domingo da Quaresma)

A primeira parte do Evangelho deste quarto domingo da quaresma (Jo 3,14-21), juntamente com a carta de São Paulo aos Efésios (Ef 2,4-10) e o Segundo Livro das Crônicas (2Cr 36,14-16.19-23), que no versículo 23 assinala, pelas mãos de um pagão, o fim do exílio da Babilônia, nos recorda que Deus é Aquele que constantemente toma a iniciativa para a salvação do ser humano, pelo fato de amar sempre muito mais e porque é um Deus que, por ser todo amor, dá sempre o primeiro passo.
Assim, afirma o evangelista São João: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas, tenha a vida eterna” (Jo 3,16), enquanto São Paulo nos conscientiza desse amor de Deus, do qual nasce a possibilidade da nossa salvação: “Com efeito, é pela graça que sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós, mas de Deus”! (Ef 2,8).
João afirma que quem crer nesse Deus que enviou o seu Filho ao mundo para salvá-lo será salvo.  O contrário também é verdade: quem não crê, já está condenado! Mas em que medida isso acontece?  Aqui somos convidados a olhar para Deus como o “remetente” da salvação e para o homem, como o seu destinatário, percebendo que a condenação não é uma fatalidade atribuída ao desejo de um Deus caprichoso. A condenação é atribuída à deficiência espiritual do ser humano.
Um Deus que ama o mundo ao ponto de enviar, conscientemente, o Seu Filho para a morte na cruz, como se fosse o único culpado, pode ser rotulado de um Deus curioso, enigmático, irônico, chocante, misterioso, mas nunca, um Deus mau! Já o homem que, ao invés da evidência e do brilho da luz "prefere" usar seus olhos para não ver ("têm olhos e não veem") ou se preferir, o ser humano que gasta tempo inteligência para debater sobre a negatividade absoluta das trevas, este homem, certamente não é saudável, pelo menos, funcionalmente, porque não quer reconhecer que suas próprias obras são más, e quando quer atribuir a elas um valor de luz, quando na verdade, são trevas!
A oração da Coleta da missa deste domingo da alegria nos recorda que o retorno do gênero humano à santidade do Pai, acontece através da vida, morte e ressurreição de Cristo: “Ó Deus, que por vosso filho realizais de modo admirável a reconciliação do gênero humano, concedei ao povo cristão correr ao encontro das festas que se aproximam, cheio de fervor e exultante de fé”!
É por causa da salvação como dom gratuito que tudo “é pintado” de cor de rosa, a cor da alegria que se pode usar neste quarto domingo, no lugar da cor roxa, realçando a alegria à qual nos convida a antífona de entrada da missa: “Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais. Vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações”! (cf. Is 66,10-11).
No período quaresmal somos convidados, a Igreja inteira, a realizar um itinerário ou “percurso” que podemos chamar de catecumenal, na medida em que, tanto quem recebe o batismo como quem já o recebeu, tem a oportunidade de verificar a própria fé e de reforçá-la para realizar ou renovar a profissão de fé durante a Vigília Pascal ao final deste percurso, no sábado Santo.
É nesta ótica catecumenal que a Palavra de Deus precisa ser recebida e escutada por nós durante a quaresma. A Páscoa do Senhor, centro do ano litúrgico é o evento em torno do qual gira a nossa vida espiritual, litúrgica e moral, isto é, a nossa fé, em síntese. A penitência quaresmal é um anúncio Pascal porque revela a nossa intenção concreta de colocar o Senhor Ressuscitado em primeiro lugar em nossas vidas, sem exceção. A vida moral é anúncio Pascal porque orienta as nossas ações à luz da fé no Ressuscitado, tendo Cristo como ponto de referência das nossas escolhas.
A alegria do quarto domingo da quaresma nos recorda que o esforço cristão, ainda que exigente, tem sentido porque nasce do discipulado ao Ressuscitado, da alegria de saber que Deus reserva para nós o grande dom, que é a Páscoa do Senhor Jesus, que nos torna familiares de Deus com o dom do Espírito.
A segunda parte do Evangelho e a primeira leitura insistem também sobre outro ponto. Trata-se da possibilidade do homem recusar a alegria que Deus lhe propõe. É por isso que lemos no segundo livro das Crônicas: “O Senhor Deus de seus pais dirigia-lhes frequentemente a palavra por meio de seus mensageiros, admoestando-os com solicitude todos os dias, porque tinha compaixão do seu povo e da sua própria casa. Mas eles zombavam dos enviados de Deus, desprezavam as suas palavras, até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo e não houve mais remédio”. São João, no Evangelho, responde muito apropriadamente à questão da recusa do homem à alegria de Deus: “A Luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à Luz, porque suas ações eram más”! (Jo 3,19).
Aqui está o maior paradoxo, ou seja, a possibilidade real de que se recuse o que é melhor, para ir na direção do mal ou, pelo menos, na direção daquilo que não realiza de forma plena e concreta a nossa vida. O compromisso quaresmal, por conseguinte, é também um “treinamento” que nos ajuda a orientar a cada um de nós para o bem, e também capaz de educar a nossa liberdade para ser, de fato, a base sobre a qual se apoia a obra da redenção. Trata-se da mesma liberdade de Jesus que escolheu o dom de Si mesmo para o nosso bem, isto é, a vontade do Pai até as últimas consequências, sem limites!

(Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA –alfredodesouza1966@gmail.com - Web site: www.inacianos.org.br).