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Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


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sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

"CALA-TE E SAI" AUTORIDADE E PODER SOBRE O MAL

"CALA-TE E SAI"
AUTORIDADE E PODER SOBRE O MAL
(Liturgia do Quarto Domingo do Tempo Comum)

O Evangelho deste Quarto Domingo do Tempo Comum (Mc 1, 21-28) nos apresenta a relação entre Jesus e a Palavra.
            Não se trata de uma mera ligação, pois n'Ele a palavra se torna comunicação de Deus ao Espírito que habita o coração de quem tem fome e sede de vida eterna.
            Mas apresenta também um texto no qual Cristo se opõe a um "espírito impuro". Jesus liberta um homem do mal e é deste homem que recebe a primeira revelação da Sua identidade, depois da revelação feita pelo Pai na ocasião do Batismo no Jordão.
            Esta expulsão do maligno nos dá a oportunidade de refletir sobre o exorcismo praticado por Cristo e deixado como missão à Igreja, no sentido da libertação do mal. Reflete também sobre o verdadeiro sentido da palavra autoridade.
            No mundo judaico contemporâneo a Jesus, era crença comum que o demônio fosse a origem de toda a doença, da morte e de todo o pecado. Os essênios praticavam a arte desse tipo de cura. Talvez seja justamente pelo fato do seu nome "essênios" significar "curadores".
            É também o nome adotado pela comunidade religiosa egípcia, que é parecido com a palavra  "terapeuta", isto é, curadores do espírito e do corpo.
            O exorcista confrontava o endemoninhado mas o demônio, percebendo as forças presentes no terapeuta, rapidamente oferecia resistência. O exorcista porém, o expulsava, ordenava que se calasse e em seguida, ordenava que deixasse o homem então, possuído.
            Nesse confronto entre as duas forças havia uma certa importância no conhecimento do nome. É assim que muitos demônios, tão logo vêem Jesus, o atacam chamando-O pelo nome. "Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: tu és o Santo de Deus”.
            A este ataque Jesus responde não com atitudes "mágicas", mas com uma ameaça, que indica o ameaçar de Deus; assume a função de JHWH (Iavé) portanto, no confronto das forças demoníacas caóticas.   Jesus ameaça o espírito impuro e depois ordena: "Cala-te"! No próprio Evangelho de Marcos temos outras referências: "Espírito impuro, sai deste homem!" (Mc 5,8); "Espírito mudo e surdo, Eu te ordeno, sai dele e não volte mais!" (Mc 9,25); "Assim, os espíritos impuros obedeciam a Jesus!" (Mc 1,27).
            Assim verificamos que não há um só rito de expulsão do mal realizado através de exercícios mágicos.  Estes são ignorados completamente pelos Evangelhos.
            É notável também que Jesus nunca invoca o nome de uma força superior, tampouco apela a um exorcista maior do que Ele. Talvez seja por essa ausência de invocação de um nome maior do que o dele próprio, que Jesus é acusado de operar em nome de Belzebu, o príncipe dos demônios.
            No Evangelho de Marcos as expulsões dos demônios são quatro: o homem exorcizado na sinagoga de Cafarnaum (1,23-26), o endemoninhado gadareno (5,1-20), a filha da mulher siro-fenícia (7,24-30) e o epilético não curado pelos discípulos (9,14-29).
            Note-se também que em Marcos, o primeiro milagre realizado por Jesus é um exorcismo. Perceba-se, igualmente, que esta Sua atividade inteiramente religiosa é atestada com força também por pelos outros evangelistas como a principal ocupação de Jesus na Galileia.
            Mas o que a Igreja fala sobre o exorcismo? O Catecismo da Igreja Católica afirma que o exorcismo é o pedido público da Igreja que, com autoridade e em nome de Jesus Cristo, suplica a Deus que uma pessoa ou um objeto seja protegido contra a influência do Maligno e subtraído do seu domínio.         Jesus assim o fez (Mc 1,25s).
            A Igreja tem o poder de exorcizar que recebeu de Jesus. O exorcismo é praticado no Batismo de forma muito simples. Já o exorcismo "solene" é praticado por um sacerdote delegado pelo bispo.
            Convém alertar que tudo quanto se refere a este assunto, deve ser tratado com muita prudência, observando as normas estabelecidas pela Igreja.
            Sim, pois muito diferentes são os casos de doenças psíquicas às quais a cura entra no âmbito das ciências médicas.
            Santo Inácio de Antioquia (+ 107 d.C) apresenta a luta constante entre Cristo e o diabo e todo o mal, luta que continua na história e na prática da Igreja.
            Com a Sua segunda vinda, Cristo eliminará todo o poder do demônio, que é aquele que leva os fieis à heresia.  A Carta do Pseudo-Barnabé (117-119) apresenta satanás como o príncipe deste mundo, que será destruído pelo Filho de Deus.
            Já o Pastor de Ermas (obra literária do séc. II d.C) fala do anjo da iniqüidade, que leva o homem ao pecado, a uma vida dissoluta e passional, e que o poder de satanás é vencido pela fé em Deus.
            Os Padres Apostólicos fixam a sua atenção na Obra de Cristo. Se falam do diabo é sempre em função d'Ele, isto é, de Cristo. A obra do maligno é impedir a Obra de Cristo, afastando o homem do Caminho do Evangelho. Mas o cristão não deve temer o demônio, pois este já foi vencido!
            O martírio é o sinal supremo da vitória de Deus e da escolha livre do homem por Ele. Assim, o mártir vence o maligno.
            Segundo São Leão Magno (440-461), o demônio foi definitivamente derrotado com a Cruz. Agora o diabo é que está acorrentado, pois cometeu um "abuso de poder", quando acreditou ter algum direito sobre Cristo, como se Ele fosse qualquer outro homem. Assim, acreditando ter vencido o Cristo, foi vencido por Cristo.
            Podemos concluir, lembrando que mais adiante, no mesmo Evangelho de Marcos (3,13-15), no chamado de Jesus aos doze, no projeto de Cristo para os apóstolos, Ele "chamou para Si aqueles que Ele  quis (...) para estarem com Ele e também para enviá-los a pregar, e também para que tivessem o poder de expulsar os demônios".

            Sabemos muito bem da presença do mal no mundo. Contudo, ao homem e à mulher de fé é confiada a tarefa de combatê-lo. Os bispos, oficialmente, através daqueles a quem dão o mandato, mas de modo geral, a todos os batizados que, através da Palavra assimilada e vivida recebem força e graça para lhe fazer oposição, com autoridade, gerando sempre mais novos caminhos de libertação. Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.