Páginas


Pároco Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA.


santaluzia@hotmail.com.br

Fone (14) 3239-3045


sábado, 25 de junho de 2016

SEGUE-ME!



(Liturgia do Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum0

A liturgia deste Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum traz, de fato, leituras desafiadoras, para a reflexão a respeito da nossa própria vida cristã.
Na primeira leitura (1Rs 19,16b.19-21), a vocação de Eliseu, sinal de que Elias deve partir logo e lhe transmite sua personalidade e sua missão profética. Na segunda leitura (Gl 5,1. 13-18) Paulo traz à tona a discussão sobre lei e liberdade, sobre liberdade e caridade nas primeiras comunidades e, no Evangelho (Lc 9,51-62), primeiro os “Boanerges” e depois as condições para seguir Jesus. Como não se questionar por um conteúdo tão intenso e desafiador?!
Vejamos, primeiramente, o Evangelho (Lc 9,51-62) que é sempre o ponto central da Palavra proclamada a cada domingo. Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o Reino de Deus”.
 O Evangelho de Lucas gira em torno deste versículo, neste Décimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Aqui todo o ensinamento de Jesus é colocado no quadro da última viagem que faz a Jerusalém, ciente do que está prestes a acontecer. Jesus sabe de tudo o que está para acontecer, isto é, a sua Paixão, Sua Morte e Ressurreição, enquanto os apóstolos demonstram a alienação de quem está em outra “sintonia”.
Ler estas páginas, geralmente, nos leva a pensar sempre como é possível que eles sejam tão “cabeças duras”? Mas depois, ao olhar no “espelho” constatamos que, mesmo depois de dois milênios, cabe a nós o papel de discípulos, juntamente com a experiência de uma certa alienação.
Mas também é possível sentir que são humanos, que somos muito parecidos com eles e então, é possível aceitar o ensinamento da experiência deles.
Na verdade, Jesus está prestes a cumprir a Sua missão e seus discípulos entendem que eles devem ajudar. Mas qual é a missão de Jesus? Sabemos qual é a missão de Jesus e como podemos ajudar? 
São quatro cenas, quatro caminhos e quatro escolhas a respeito de como raciocina, como age e como pensa um discípulo.
A primeira nos diz que Jesus foi recusado por alguns (samaritanos) que não queriam nem mesmo vê-Lo, porque estava se dirigindo para Jerusalém. Na verdade, a conclusão dos samaritanos é que Jesus é o messias esperado pela Tradição. Isto é, poderoso, vingativo e violento. Portanto, mais um opressor dos pagãos, dentre eles, especialmente, os próprios samaritanos. Trata-se da disputa teológica e uma rivalidade secular entre judeus e samaritanos.
Diante dessa recusa a resposta dos discípulos: “Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para destruí-los?”, e por isso são chamados de Boanerges, que quer dizer, “filhos do trovão”, nome que Jesus dá a Tiago e João por causa do seu temperamento impetuoso e vingativo (Mc 3,17), (Mc 9,38), (Lc 9,54-55).
Na sugestão dos dois discípulos há três erros. O primeiro sugere que Jesus não tenha uma opinião própria para avaliar a atitude dos samaritanos. Diante disso, oferecem a sua “ajuda”. Quantas vezes também nós não caímos na tentação de dizer a Deus o que está certo ou não, o que funciona ou não, como Ele deveria agir ou não?
Na verdade estamos é dizendo a Deus, “eu quero que tu faças o que eu quero”! Eis o segundo erro! Mas não é justamente o fazer a vontade de Deus que nos liberta e que nos torna felizes, e não o contrário?!
O terceiro erro está em não compreender que Jesus veio para salvar e não para destruir os maus com fogo. Esta é a Sua missão!
Na segunda cena, alguém de livre e espontânea vontade, se apresenta dizendo “Eu te seguirei para onde quer que fores”, e Jesus o acolhe, mas a resposta é esclarecedora para avisar que, se o desejo de seguí-Lo tiver como principal motivo o fato de vê-Lo rodeado de pessoas e pelo sonho de prestígio e de glórias mundanas, é melhor não fazê-lo, pois “As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça”! Afinal, aos discípulos do Mestre está reservado o mesmo destino assumido por Ele, isto é, “o mesmo caminho, a mesma cruz e a mesma ressurreição”! Mas, cuidado, não podem se iludir com as glórias e honrarias deste mundo.
Ora, não é possível seguí-Lo inebriado pelas ilusões de grandeza, de destaque, de ser e fazer sempre melhor do que o outro e por essas coisas ter mais reconhecimento! Quanta competição! Aqui é preciso lembrar-se das tentações a que foi submetido o próprio mestre e a sua postura diante delas! “A minha glória está em fazer a vontade do Pai”, dirá Jesus. Portanto, até mesmo uma esteira e uma pedra como travesseiro para recostar a cabeça, será o bastante se for só o que Ele tiver!
Na terceira cena é o próprio Jesus que faz a proposta a outro homem: “Segue-me”! Trata-se de um chamado pessoal. A resposta? “Deixa-me primeiro ir enterrar meu pai”! Aparentemente o quadro dessa a cena é o de um cortejo fúnebre. Mas não. A morte do pai aqui se refere ao passado. Não, Jesus não está sendo frio ou grosseiro. Só a vida contém o presente e o futuro. A morte só contem o passado. Pelo menos nesta etapa da vida terrena. Então, Jesus não está desprezando esse gesto para com o pai, mas está exigindo que seja rompido todo o laço com um passado que não permite o novo; que impede prosseguir no Seu seguimento do Reino de Deus. O que Jesus repreende é o medo da santidade que é exigente e que, necessariamente, fará com que nós nos desinstalemos, e nos separemos do nosso passado!
Jesus, percebendo a atitude do homem e a sua dificuldade em dar uma resposta ao Seu chamado, lhe responde: “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”! Ou seja, é preciso deixar o passado no passado.
Na quarta cena há outra oferta feita de livre e espontânea vontade. Porém, parece que ao escutar que, da parte do Senhor que chama, não é possível uma resposta sob nenhuma condição, o homem se apressa em dizer: “Eu te seguirei, Senhor, mas deixa-me primeiro despedir-me dos meus familiares”!
Jesus parece perceber que este homem, no fundo, está propondo ser um discípulo que até é capaz de seguí-Lo, mas que não o seguirá se não puder voltar para levar consigo um pouco do que deixou pra trás.
Diferente de Elias, que permite a Eliseu despedir-se de seus familiares antes de assumir a missão profética, Jesus é mais exigente e não permite.
Eis a Sua resposta: “Quem põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus”! A resposta pode soar como rude e mal educada. Mas não! A atitude de Eliseu ao despedir-se de sua família, permitida por Elias é, na verdade, uma ruptura com o passado. A urgência do anúncio do Reino não aceita ficar preso nem mesmos às coisas boas do passado. Já passou! É preciso olhar pra frente na perspectiva do Reino.
Jesus deixa claro que fazer uma escolha significa escolher o que, realmente, é mais importante, e que se alguém quiser ficar com um “pé cá e outro lá”, como dizemos comumente, não estará, de fato, com os pés em lugar nenhum!  
A missão de Jesus é salvar o mundo, salvar a todos, sem exceção e com verdadeiro amor!
Se quisermos ser seus discípulos, precisamos, portanto seguir os conselhos implícitos nas cenas do Evangelho de hoje. Isto é, não querer tomar o lugar de Deus, o amor é um dom gratuito, somos chamados a viver intensamente e, finalmente, compreender que, se alguém escolher seguir a Cristo, de fato, é preciso saber escolher deixar tudo aquilo que é morte-passado para trás.
Esta lição é difícil, não só para nós, mas até mesmo para os Apóstolos. A boa notícia é que Jesus não se cansa de esperar-nos e de nos repreender, recordando que Jesus vai à Jerusalém para nos salvar. A cada um de nós e a qualquer um que aceite a Sua salvação. Ao acolhermos a salvação que Ele nos oferece, descobriremos o quanto é bom e belo seguí-Lo! Frei Alfredo Francisco de Souza, SIA – Missionário Inaciano.